Tá doendo aí? Aqui também tá.
Quase dá para tocar a dor no ar. Ela está densa, pesada. Difícil encontrar quem não esteja com esse nó enroscado na garganta. Com essa mistura de incredulidade, questionamento e tristeza. Familiares e amigos das vítimas estão vivenciando a abertura à fórceps de uma ferida que pode até cicatrizar um dia, mas que nunca irá sumir. Mas todo mundo que viu essas imagens sentiu algo. Pode ser que você não conhecesse nenhum desses rostos ou nenhuma dessas histórias que são contadas agora de forma póstuma, mas está sentindo uma angústia difícil de explicar. Uma cidade, uma região, um estado, um país em luto.
O sofrimento se torna elo. Um fio invisível que nos conecta pela consternação. Começamos uma nova semana parecendo que acordávamos de um terrível pesadelo. A diferença é que ao abrir os olhos a realidade está aqui: dura, doída, bem na nossa frente. O luto oficialmente declarado, as fitas pretas espalhadas pela cidade, as bandeiras a meio mastro, as fotos em preto e branco que mostram que a vida desses sorrisos vai ficar apenas na memória.
A empatia nos transporta a um lugar de solidariedade. Nos colocamos no lugar da mãe que perdeu a filha; da filha que perdeu os pais; dos filhos que ficaram sem pai e mãe. Imaginar o vazio por tamanhas perdas nos chacoalha para refletirmos sobre a brevidade da nossa existência. Muitos personagens que o mundo está conhecendo viviam aqui, entre nós. Trabalhavam, estudavam, brincavam, sonhavam.
Quais movimentos e decisões fizeram com que a história de todos estivesse entrelaçada dessa forma? E os que iam e não foram? Casualidades que definiram destinos. A nossa racionalidade busca respostas que não há como decifrar. “Que tragédia!”, repetimos em pensamento. Na iminência do impensável adeus, encaramos as nuances de um acidente raro, que uniu de forma definitiva 62 pessoas. Descansem em paz, passageiros do voo 2283 e que o conforto chegue aos que vivem o luto, que, como alguém já disse, é o amor que não tem para onde ir.