Além da abertura parcial da segunda ponte entre Brasil e Paraguai, o fim de semana em Foz do Iguaçu foi marcado por uma intensa agenda política durante a Cúpula do Mercosul. O encontro reuniu presidentes e autoridades dos países do bloco e expôs divergências importantes tanto na área econômica quanto na diplomacia internacional.
O principal tema da reunião era a assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, considerado o maior tratado do tipo já negociado pelos dois blocos. As negociações se arrastam há quase 30 anos, mas, mais uma vez, a expectativa foi frustrada. A assinatura acabou sendo adiada após pressão de países europeus, especialmente França e Itália, que defendem maior proteção aos seus agricultores e enfrentam forte pressão interna do setor rural.
O adiamento já havia sido sinalizado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Mesmo assim, o Mercosul decidiu manter a cúpula, apostando na possibilidade de reverter o impasse, o que não ocorreu. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Von der Leyen afirmou que segue trabalhando para concluir os trâmites internos e reiterou o compromisso de assinar o acordo no início de janeiro.
Pelo texto negociado, a União Europeia ampliaria a exportação de veículos, máquinas e produtos como bebidas alcoólicas para Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em contrapartida, o acordo facilitaria a entrada no mercado europeu de produtos agrícolas sul-americanos, como grãos, carnes, açúcar e mel — ponto que gera maior resistência entre os europeus.
A cúpula também foi marcada por divergências políticas que impediram a divulgação de uma declaração conjunta ao final do encontro. As discussões sobre a situação na Venezuela e as tensões envolvendo o país e os Estados Unidos expuseram posições opostas entre os líderes do bloco.
O presidente Lula evitou citar diretamente os Estados Unidos ou o ex-presidente Donald Trump, mas alertou que a América do Sul voltou a ser “assombrada” pela presença militar de uma potência de fora da região. Já o presidente da Argentina, Javier Milei, adotou postura oposta e defendeu as ações norte-americanas.
Paralelamente à cúpula, um documento pedindo a “restauração da democracia” na Venezuela, liderado pela Argentina, foi assinado pelos presidentes do Paraguai e do Panamá, além de autoridades da Bolívia, Equador e Peru. Lula e o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, optaram por não assinar o texto. A avaliação do governo brasileiro é que, caso o documento fosse endossado formalmente pelo Mercosul, poderia ser interpretado como apoio a uma eventual ação militar, hipótese rejeitada pelo Brasil.