Denunciar abusos é um ato de coragem, mas, para as vítimas, falar sobre o assunto é uma dor intensa. No caso do padre preso em Cascavel, uma das vítimas decidiu se manifestar com exclusividade à Tarobá, sem se identificar, e contou momentos traumáticos vividos durante os abusos.
Segundo a vítima, o primeiro contato com o abusador foi quando ele ainda era seminarista, durante uma visita à cidade de Guaraniaçu. Eles estavam na casa de uma família, onde foram colocados para dormir no mesmo quarto. Foi nesse momento que os assédios começaram.
O depoente relata que o padre colocou, por quatro vezes, as mãos em sua genitália, e que só parou quando a vítima reagiu de forma agressiva, afirmando que ele teria problemas caso fizesse aquilo novamente.
A vítima também revela que, em uma conversa após os abusos, o padre foi irônico e debochado:“Ele subiu em cima de mim três vezes, e eu pedi pra ele sair”, conta. E complementa: “Me perguntou se eu tinha ficado 'grávido'.”
O relato ainda menciona a chegada de Dom Mauro a Cascavel, junto com o padre suspeito dos abusos — na época, ainda seminarista. A vítima afirma que acreditava estar sob a proteção do Arcebispo.
Segundo ela, o Arcebispo teria solicitado que fosse entregue uma carta, afirmando que "tudo estava resolvido" após os atos de abuso sexual.
O homem relata que a situação o perturbou por muito tempo, e que também carregou por anos um forte sentimento de culpa.
A vítima ainda cita que o padre realizava sessões de hipnose, o que ele considerava estranho.
“Se você deixa a pessoa hipnotizada numa situação dessa, você pode fazer o que quiser com ela, aí eu entendo porque naquela noite quando eu despertei eu estava meio conturbado”, disse.
Segundo depoimento, o homem afirmou que não sabe dizer se outros seminaristas também foram vítimas, mas destacou que, por se tratar de um teólogo com posição de autoridade, é possível que ele tenha se aproveitado da hierarquia e da confiança que a função lhe proporcionava.
Ele também ressaltou que, apesar da gravidade da situação, acredita que a Igreja possui mecanismos internos de investigação e leva as denúncias adiante, reforçando sua confiança no processo institucional.
A vítima ainda pontuou que o sentimento predominante em relação ao agressor é de asco e nojo, evidenciando o impacto emocional profundo do abuso sofrido.
Apesar do trauma, a vítima declarou que perdoa o agressor, mas acredita que ele precisa passar por penitência.