No mês passado, o Papa Francisco oficializou o título de Basílica Menor para a Catedral Nossa Senhora de Lourdes, em Apucarana (PR). Mas o que muda com esse novo status da igreja? Segundo o padre Anderson Bento, que estuda teologia e ciência patrística junto ao Instituto Patrístico Agostiniano em Roma, o documento de concessão do título determina direitos e deveres à Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora de Lourdes. Em relação aos deveres está o uso do latim durante as celebrações e a realização de projetos sociais junto a comunidade. Já entre os direitos está a concessão de indulgência plenária aos fiéis
"Uma cláusula interessante de deveres da basílica é a memória da língua litúrgica primordial da Igreja, que é o latim. Nas basílicas papais o latim é usado como um símbolo de universalidade, um símbolo de comunhão litúrgica com as demais basílicas, com as demais igrejas espalhadas pelo mundo todo, e também algumas, alguns cânticos, até mesmo algumas orações", comenta.
Conforme o padre, o documento especifica que sejam feitas formações, instruções, projetos de ordem diversa na comunidade e trabalhos com os vários grupos sociais. "Isso acontece em nossa Catedral já de longa data, mas deve ser sempre intensificada agora com esse vínculo mais próximo com o Romano Pontífice, no sentido de que a caridade realizada na Igreja Basílica é uma extensão da mesma caridade exercida pelo Romano Pontífice", assinala.
A Basílica deve ter algum tipo de insígnia que recorde o Ministério Petrino. No documento, por exemplo, cita As Chaves Cruzadas que são símbolos que a Igreja adota já há muito tempo para fazer menção a Igreja de Roma.
"Dentre os principais direitos que nós temos, e acredito que o maior de todos é a indulgência plenária em algumas ocasiões específicas que não são concedidas a outras igrejas mais aquelas que possuem esse título, como por exemplo, todo fiel que participa da Missa de São Pedro e São Paulo em uma igreja basílica, recebe a indulgência plenária também na festa do titular", assinala.
Entenda como surgiu o termo Basílica
Segundo o padre Bento, existem pouco mais de 1,4 mil basílicas menores em todo o mundo. O título indica a elevação no grau de importância do templo religioso. "É de fato um título muito importante no mundo", ressalta.
Bento explica que o termo tem suas origens na Grécia antiga, para denominar locais onde ocorriam encontros e reuniões onde eram tomadas decisões econômicas, políticas e sociais importantes.
"Sabemos que a Grécia antiga era o berço da democracia. Naquele contexto, não havia um rei, mas havia um colégio de anciãos, os que administravam a cidade em conjunto e se reuniam sempre na polis (comunidade)", conta.
Com o advento da monarquia, 150 anos antes de Jesus Cristo, o espaço de discussões políticas e de administração de governo foi batizado de basileus (soberano), nome usado para identificar o rei. "Por isso essa grande sala do rei, nesse grande centro de onde o rei governa, passou a ser chamado de basílica. Com o passar do tempo, esse nome se popularizou e acabou vindo parar aqui em Roma, de maneira que também os centros de administração ligados a os imperadores e em um tempo precedente aos cônsules, eram chamados de basílica", explica.
Após aproximadamente quatro séculos de cristianismo, a igreja se desenvolveu por toda Europa e norte da África e Ásia. Porém foi somente em 312, no governo do imperador Constantino que as primeiras basílicas cristãs foram construídas.
"Era necessário construir para a Igreja alguns templos, algum ambiente onde as celebrações pudessem se desenrolar. E a estrutura que foi escolhida para isso foi a maior estrutura conhecida até então para reuniões de pessoas que eram as basílicas imperiais".
O padre explica que o sentido real de Basílica - no caso da Catedral de Apucarana - é a sala do Rei, Jesus Cristo, e da rainha, Nossa Senhora de Lourdes.
"As primeira as basílicas feitas lá no tempo do Imperador Constantino recebem o título de Basílicas Patriarcais porque foram construídas em cima dos cemitérios dos mártires cristãos. Posteriormente, essas Basile e casas patriarcais começaram a receber o título de basílicas maiores, justamente porque eram as igrejas principais existentes na época e podemos dizer que ainda hoje são as principais. Dentre essas basílicas maiores nós podemos citar, por exemplo, a Basílica de São Pedro, no Vaticano, e aonde está sepultado o apóstolo Pedro.
Um tempo depois, com o aumento do número de igrejas relevantes, foram surgindo também outras formas de elevar o status de templos que não fazem parte do grupo de Basílicas Patriarcais. E por isso surgiu o título de Basílica Menor.
"No mundo são muitas igrejas que recebem esse título, mas todas elas têm em comum a relevância, a importância e desempenho na vida do nosso povo, na vida pastoral das comunidades. É por esse motivo que o título de Basílica foi concedido à nossa Catedral de Apucarana.
Dom Romeu Alberti solicitou título na década de 70
De acordo com o bispo da Diocese de Apucarana, Dom Carlos José de Oliveira, o bispo Dom Romeu Alberti, que também comandou a diocese no passado, encaminho o pedido para transformar a catedral em basílica no fim da década de 1970. "Padre Alexandro Chanceler, pesquisando nos documentos da Cúria, encontrou todo um processo. Um pedido feito por Dom Romeu Alberti na década de 70 ou início de 80, pedindo esse título. Agora não sabemos o porque que isso não foi para frente", comentou o bispo.
Durante sua visita a Roma, Dom Carlos levou uma coroa que foi abençoada pelo Papa Francisco e deve coroar Nossa Senhora de Lourdes durante a 6ª Romaria Diocesana, que será realizada em 9 de fevereiro, no Complexo Esportivo Lagoão, em Apucarana.
O documento assinado pelo Papa Francisco deve ser exposto na Catedral e depois no Museu da Diocese de Apucarana.