Um gigante embrutecido, que não quer ninguém por perto dividindo o espaço que ele pensa ser só dele. Um convite à reflexão sobre espaços, direitos, solidariedade, exclusão, convivência, pertencimento e transformação a partir da metáfora de jardim fechado ameaçando processar quem tentar invadir. “O Gigante Egoísta”, novo espetáculo do ator e diretor londrinense Paulo Barcellos estreia no próximo sábado (26), às 17h30, na Vila Triolé Cultural (R. Etienne Lenoir, 155), com ingressos gratuitos e classificação indicativa livre. A montagem segue em temporada com apresentações em escolas, praças e espaços culturais da Cidade até meados de novembro e propõe uma reflexão poética sobre infância, egoísmo e espaço urbano em Londrina. No domingo (27), a apresentação é na Vila do Circo, na Avenida Saul Elkind, 790.
A peça idealizada para o público infanto-juvenil é uma adaptação livre e sensível do conto homônimo de Oscar Wilde, influente escritor, poeta e dramaturgo irlandês. No texto, a personagem Gigante constrói um grande muro em torno de seu jardim e faz questão de colocar uma placa onde se lê “Os Invasores serão Processados”, impedindo assim que as crianças brinquem em seu espaço privado. A encenação se constrói ao ar livre, teatro de rua em tom épico, com forte presença narrativa e uso de elementos simbólicos e lúdicos. “A história, que trata da exclusão das crianças de um espaço de alegria e da posterior transformação do Gigante a partir do contato com elas, se torna ponto de partida para reflexões contemporâneas sobre quem pertence aos espaços públicos, o direito ao brincar, e a potência da infância como agente de mudança”, comenta.
“A montagem busca aproximar a infância da arte por meio de uma linguagem acessível e criativa, que ressignifica objetos cotidianos e transforma o espaço urbano em lugar de encontro, escuta e imaginação. A proposta dialoga com temas como solidariedade, exclusão, convivência, pertencimento e transformação a partir do gesto de abertura do Gigante”, completa Barcellos que também assina a dramaturgia do espetáculo que retrata um gigante que, em um ímpeto egoísta, resolve isolar seu jardim das crianças que o coloriam ao brincar e correr por ali. A partir disso, sua vida fica triste e solitária — até que, sensibilizado por um menino que surge cercado de mistério em sua vida, o protagonista percebe que o caminho para sua própria felicidade está na generosidade e na partilha de seus dias.
O projeto, aprovado pelo PROMIC – Programa Municipal de Incentivo à Cultura do Município de Londrina, começou a ser construído a partir de debates com especialistas em cultura e urbanismo em ações de fortalecimento dos laços entre arte, território e cidadania. Em março, promoveu a série “Diálogos com o Público: a quem pertence o espaço?” , com a participação da gestora cultural e atriz Maria Tendlau (São Paulo), a docente da UEL, urbanista e cicloativista Camila Oliveira, o produtor cultural e ator Eddie Mansan e a produtora cultural e percussionista Luiza Braga. Ao longo dos meses até a estreia do próximo sábado, cinco artistas da cidade participaram do processo de criação, atuando como provocadores do processo de criação e encenação. Edna Aguiar, Gelson Amaral, Dani Fioruci, Luís Henrique “Bocão” e Luan Valero ofereceram suas próprias experiências, colaborando com os processos e na reflexão sobre o bem cultural da cidade. E assim, Barcellos vai na contramão do tema “egoísmo”, ampliando o olhar a respeito da pesquisa, como apresentado na “abertura de processo” que aconteceu no Espaço Ibirá das Artes no final de semana anterior à estreia.
Sobre o artista
Paulo Barcellos iniciou sua carreira em Londrina em 1986 com o Grupo Delta e, no ano seguinte, fundou o Armazém Cia. de Teatro, onde permaneceu por uma década. Em 1998 mudou-se para São Paulo, onde atuou com diversos grupos e diretores nas áreas de teatro e dança contemporânea. Desde 2020, divide sua atuação entre São Paulo e Londrina, acumulando 46 montagens cênicas ao longo da carreira, com destaque para projetos de pesquisa em narrativas, teatro épico e espaços alternativos.