A infraestrutura atrai o desenvolvimento, mas na vida real o caminho é trilhado na contramão. A indústria chega primeiro, anda depressa e fica anos à espera de itens básicos para poder se desenvolver, como logística, acessibilidade, boa conexão com a internet e até mesmo energia elétrica.
Do alto é possível enxergar crescimento. A indústria exerce papel de peso na economia. O setor emprega 9,7 milhões de brasileiros. É responsável por mais de 20,4% do Produto Interno Bruto (PIB), 69,2% das exportações e investimentos e contribui com 33% da arrecadação de tributos federais.
Segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), para cada real produzido na indústria, R$ 2,43 são gerados na economia do País. E quando se observa o grau da dificuldade os resultados parecem ainda mais surpreendentes. É fato. A infraestrutura está sempre atrasada.
De Norte ao Sul do Brasil, toda indústria tem uma história assim para contar, inclusive nas regiões economicamente pujantes. Cascavel, Oeste do Paraná, localização estratégica. Ponto positivo na hora de definir um investimento. "É um lugar estratégico além de ser o principal entroncamento da nossa região", diz o empresário do setor madeireiro, Norival Galina, cuja indústria fica na BR-277, próximo ao Trevo Cataratas. "Hoje estamos vendo progresso, mas só faltou um detalhe, que é a marginal da rodovia que foi duplicada. Aguardávamos ansiosos por um acesso melhor para a indústria, mas isso não aconteceu", aponta Francisco Marmentini, proprietário de um frigorífico de peixes.
Os empresários instalaram suas indústrias às margens da BR-277, principal corredor do Estado. A duplicação chegou, mas o projeto deixou de fora um importante trecho da marginal, e o que deveria ser acesso, hoje é um obstáculo. "Quem estava ali à época não tinha o acesso regularizado e por isso não constou no projeto", justifica o superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Charlles Urbano Hostins Júnior.
A decisão do Estado frustrou os empresários. "Quando teve a notícia da duplicação nós fizemos reuniões, contudo esse núcleo industrial não foi contemplado", lamenta Itagiba Fortunato Júnior, proprietário de uma indústria de produtos gráficos.
A sensação foi a mesma entre os vários empresários da região. "Quando ouvimos a notícia da duplicação, pensamos que a marginal seria construída automaticamente, mas infelizmente não foi", relata o empresário Francisco Marmentini.
Na avaliação do dono da indústria de madeira, Norival Galina, houve falha de planejamento. "Faltou pensar no futuro. Lá na frente vão dizer: Nossa, deveríamos ter feito a marginal".
O segmento desprovido de infraestrutura tem menos de dois quilômetros, mas tem grande relevância para o escoamento das cargas industriais. O que passa em cima dos caminhões integra o Produto Interno Bruto do País.
Boa parte da produção que passa por esse trecho da BR-277 vem das empresas localizadas no entorno da rodovia. Cada uma com a sua vocação: O agro, também chamado de indústria a céu aberto; a madeireira que auxilia o desenvolvimento da construção civil; o pescado, produzido no frigorífico que emprega centenas de trabalhadores; e os produtos gráficos que saem do interior do Paraná para todo o Brasil. Somente na Gráfica Tuicial Indústria são mais de 300 empregos diretos com três turnos de produção. E o que sai da indústria abastece estoques de empresas espalhadas por todo o País, movimentando a engrenagem da economia.
Internamente, nos parques industriais, tem excelência, rigor aos padrões de qualidade e muita tecnologia. Do portão pra fora, na hora de escoar o contraste. Estrada de chão, cheia de buracos. E com chuva, o cenário fica ainda pior. "A gente sofre muito, tem material que nem conseguimos descarregar aqui porque a carreta não consegue entrar e muitas vezes temos que improvisar," conta o empresário Itagiba Fortunato Júnior.
Os motoristas são os profissionais que sentem a precariedade do acesso na pele e falam com conhecimento de causa."Do jeito que está é muito complicado na entrada e na saída e se tiverem dois caminhões, simplesmente não passa".
O trecho que ficou sem a construção da marginal é curto. Mas representa muito. Vários empreendimentos estão na região e ilustram mais um caso daqueles, em que a infraestrutura que deveria chegar primeiro foi ignorada e passa a ser mais um item na conta da iniciativa privada. "As empresas e os moradores daquela região já se reuniram e aprovaram com o DER a ocupação de parte da faixa do domínio. A execução depende de quem elaborou o projeto, no caso, a iniciativa privada", confirma o superintendente do DER.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic), Siro Canabarro, está ciente da necessidade. "O que precisamos agora é de força política para que venha o recurso para a construção da marginal".
Além disso, tem também os problemas de acessibilidade que afetam os trabalhadores. Acessibilidade zero. Uma das alternativas para chegar ao trabalho é a estrada de chão batido, e a segunda opção é pular o guard rail. "Os funcionários sofrem demais com as linhas de ônibus. Muitas vezes os motoristas não entram na estrada de chão e aí vem o risco", diz Itagiba.
Juntas as empresas que pleiteiam a obra da marginal estimam um faturamento anual de mais de R$ 2 bilhões. E preveem um investimento de 500 milhões por ano, geram mais de três mil postos de trabalho e proporcionam retorno considerável na geração de receita em impostos. "Nós temos que forçar que a indústria não esteja à frente da infraestrutura. A infraestrutura temos que planejar a médio e longo prazo para que não venhamos a perder a vinda de novas indústrias. Precisamos atender quem já está aí e para quem quiser vir vamos ter que ter uma condição mínima de atendimento. A infraestrutura é um dos temas de uma política industrial do estado", afirma Edson Vasconcelos, presidente da Federação da Indústria do Estado do Paraná. A indústria pede passagem.