Como forma de trazer aos espectadores reflexões que permeiam temáticas da morte, memória e rituais, a Vila Cultural Triolé (Rua Etienne Lenoir, 155) receberá o espetáculo “O Último Tranco”, apresentado pela Cia. Triolé, nesta quarta-feira (27), às 19h. A apresentação faz parte da programação da feira de artes cênicas “Cena em Movimento”, que se encerra nesta sexta-feira (29).
Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados meia hora antes, na portaria da vila cultural. O espetáculo é recomendado para maiores de 10 anos e contará com uma tradução simultânea em libras.
No palco, os palhaços Lambreta e Mereceu se apresentam em um espaço de realidade distópica. Uma mistura de laboratório, sala médica, mecânica de carros, que se espalha desde o ambiente até o figurino das figuras. Ao centro da cena, o corpo-objeto da despedida se prostra sobre uma mesa com lençol branco. Essa é a fonte do desespero e causa do pranto dos palhaços Lambreta e Mereceu que, em meio aos sentimentos comicamente expostos, elaboram os rituais necessários – ou não – para a realização da devida despedida.
Dirigido pela Mestra Lily Curcio (in memoriam), o espetáculo “O último tranco” é o momento do grupo Triolé, formado por Alexandre Simioni e Gerson Bernardes, em se aventurar por outros ambientes, abrindo espaço para a alternância entre silêncio e som.
Segundo Simioni, a dupla mantém uma parceria de 15 anos, destacando-se com o espetáculo “Qual Graça de Laurinda”, realizada desde 2010. Além dessa produção conjunta, o grupo conta com dois solos: “O Zelador”, interpretado por Mereceu (Simioni), e “Subsolos”, apresentado por Lambreta (Bernardes).
“Então, a gente tinha a necessidade de um espetáculo novo, de um espetáculo que trouxesse de novo a dupla para os palcos. E com uma proposta um pouquinho diferente, já que esses outros três espetáculos cabem em espaços alternativos, cabem em rua e diversos outros lugares.”
Visando desnudar os conceitos apresentados, de modo a poder exibi-los de maneira lúdica e transcendental por meio da linguagem da Palhaçaria, muitas referências foram buscadas pelo grupo desde 2020, com temáticas advindas da pandemia.
“Para além do tema da morte e os seus rituais, a gente pesquisou muitos filmes e livros que retratavam a temática da distopia, desde o filme Mad Max e o filme e livro 1984 (George Orwell). Outro referencial que foi muito forte para nós foram as obras do Bispo do Rosário, por meio da sua produção artística e a maneira de como ele viveu”, relatou o ator Gerson Bernardes, responsável por dar vida ao palhaço Lambreta.
Segundo Bernardes, as pesquisas partiram dos seus estudos e de Alexandre Simioni, intérprete do palhaço Mereceu no espetáculo. “A gente teve uma pesquisa teórica com o pesquisador e filósofo Gandhy Piorski, sobre os temas da memória, saudade, morte, lutos, rituais e um trabalho de preparação corporal e preparação afetiva em palhaçaria, com a Grita Cia de Palhaças.”, salientou.
Com estreia em maio deste ano, o espetáculo “O último tranco”, já contou com doze apresentações, sendo dez em maio, na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL, e duas apresentações em outubro, na Vila Cultural Triolé. O espetáculo ainda conta com a participação de 17 profissionais, compondo toda a produção do evento.
A apresentação é uma realização do Grupo Triolé e conta com o patrocínio da Prefeitura de Londrina por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) da Secretaria Municipal de Cultura.
Cena em Movimento – Com o objetivo de apresentar trabalhos de Londrina para curadores de outros estados e cidade, Alexandre Simioni, gestor e cofundador da Vila Triolé, destaca que a feira de artes cênicas “Cena em Movimento” trouxe a possibilidade dos profissionais da área de ampliar o público e os conteúdos apresentados localmente, principalmente ligados à Vila Triolé, como o show “O Último Tranco”.
“Para os nossos vizinhos, para as pessoas que estão ali próximas, é um espetáculo que a gente trabalhou muito, durante quatro anos, desde toda a etapa de pesquisas, ideias, conversas, direção e montagem. Então agora a gente tem um carinho muito grande pelo “O Último Tranco”, comentou.
Segundo Simioni, a curadoria do evento está muito positiva em relação aos espetáculos e às produções, tanto na questão da programação artística, quanto das capacitações que estão ocorrendo no momento.
“A gente espera que esses resultados reverberem durante todo o ano, com grupos conseguindo se tornar mais profissionais e organizar seus planejamentos. A ideia é que essa feira aconteça todo ano, que a gente prepare o pessoal e mostre ao público a qualidade que temos em nossas produções de artes cênicas”, salientou.
Sinopse
Em cena, Lambreta e Mereceu se deparam com o inevitável, com a única certeza da vida. E de frente à morte, o que nos resta fazer? Entre cerimônias e solenidades, ritos e rituais, os dois palhaços descobrem na relação da dupla a maneira própria de se despedir ou de se encontrar com o amigo que partiu, ou melhor… Não deu partida!