Em 1983, quando morava em Santa Catarina e descobriu que sua avó faria uma viagem até Curitiba, Alex Fabiano Silva, na época com 12 anos, não teve dúvidas. Encomendou a ela que trouxesse uma camisa do Cascavel Esporte Clube. Ela rodou a capital paranaense, mas não conseguiu encontrar a encomenda do neto e ao retornar estranhou a frustração do garoto. A avó e os pais questionaram se não poderia ser uma camisa do Coritiba ou do Athletico, mas ele nada respondeu.
A paixão por Cascavel vem desde os tempos de criança e, segundo Fabiano, são daqueles amores que não se consegue explicar. Aos 17 anos ele mudou para Curitiba para cursar medicina veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e também se tornou escritor.
Recentemente, ele lançou seu mais novo livro, intitulado “O veterinário de Cascavel”. Na obra, ele mistura ficção e realidade sobre um personagem cascavelense que, incialmente ficou conhecido com encantador de serpentes, mas que se tornou um dos homens mais ricos do mundo. O detalhe é que o autor nunca esteve na cidade. Toda a narrativa sobre a cidade foi feita com base em pesquisas.
“O livro começa com o dr. Guilherme de Almeida Rocha, o veterinário de Cascavel, contando para sua única filha, no ano de 2017, a origem do nome ‘veterinário de Cascavel’ e como uma queda sobre um ninho com 12 cascavéis, no ano de 1975, aos 14 anos de idade, mudou a sua vida por completo. Saindo ileso, sem qualquer picada, o cascavelense ficou conhecido incialmente como ‘o encantador de serpentes de Cascavel’. Encafifado com as 12 cascavéis que subiram sobre o seu corpo, passou a se fixar no n.º 12 como alguma mensagem divina - os 12 apóstolos?, os 12 meses do ano?, as 12 horas do dia e da noite? - e começou a se perguntar por que foi criado apenas pela mãe e abandonado pelo pai. Por que o pai o abandonou? Fez, então, medicina veterinária na Universidade Federal do Paraná e passou a ser conhecido como “o veterinário de Cascavel”, diz o autor.
Autismo
O autor, assim como em seu livro anterior, decidiu incluir o autismo na obra literária. Em 2010, Otávio Augusto, filho do veterinário escritor, foi diagnosticado com transtorno de espectro autista. “Sem parentes próximos, tive de fazer uma escolha entre cuidar do tratamento do meu filho ou lutar pelo meu crescimento profissional. Decidi escolher o tratamento do meu filho, um tratamento caro, difícil e desgastante com pouquíssimo apoio do poder público e da sociedade”, diz.
No livro, ele deixa claro que o “veterinário de Cascavel” é portador da Síndrome de Asperger, numa época em que o diagnóstico ainda não existia. “O objetivo desta vez é mostrar a dificuldade de inclusão do portador do transtorno numa sociedade que rotulava (e ainda rotula as pessoas) pelo comportamento diferente da grande maioria”, afirma.
Todo o livro, em si, é um trabalho simbólico e enfatiza dois grandes problemas crônicos da humanidade: o ódio e o egoísmo, como também suas consequências. O livro também é pura ficção, mas traz pessoas reais e fictícias que interagem e se interligam. “Simbolizam nossos processos de aprendizagem, de envelhecimento do corpo e de amadurecimento da alma”, diz Alex Fabiano.
Desafios
Inserir Cascavel no livro foi um dos desafios para quem não conhece a cidade. “Talvez um dos grandes desafios do livro. Como descrever regiões que você não conhece e da década de 70? Tive de fazer algumas pesquisas no site da Prefeitura, IBGE e no Google Maps. O resto foi imaginação. Por medo de cometer erros ou falhas, evitei às descrições físicas. Padre Anselmo, por exemplo, é amigo e conselheiro do Guilherme e trabalha na Igreja de São Cristóvão. Eu queria muito fazer uma descrição da igreja, mas não consegui, talvez com medo de alguém ler e dizer: a igreja não era assim em 1975! Tem uma passagem, por exemplo, que os dois saem da Igreja de São Cristóvão e caminham pela Avenida Brasil. Enfim, meu maior objetivo é fazer as pessoas conhecerem um município que cresceu e evoluiu muito no Paraná e no Brasil nas últimas décadas”, afirma.
Alex Fabiano diz que tem muita vontade de conhecer Cascavel, mas que é necessário fazer um processo de conscientização e preparação do filho. “O autista evita ao máximo sair de casa e só vai aos locais onde tem certo controle e conhecimento. Coisas novas ou fora da rotina complicam a vida dele e de quem está ao seu redor. Minha vida nunca mais foi a mesma e se hoje sou uma pessoa melhor devo tudo ao meu filho Otávio que me ensinou a importância da paciência e do amor incondicional”, afirma o escritor.
O livro em sua forma física foi publicado no dia 4 de julho de 2021 pelo “Clube de Autores” e “Agbook”. No dia seguinte o livro também foi publicado em formato digital pela Amazon.