Cotidiano

Audiência pública chama a atenção sobre uso de tecnologias por crianças e adolescentes

29 mai 2019 às 16:12

O impacto da presença cada vez mais intensa e precoce da tecnologia na vida de crianças e adolescentes precisa ser mais estudado e debatido na sociedade. Essa é um dos consensos percebidos entre profissionais e especialistas de diversas áreas que participaram da audiência pública realizada na Câmara de Vereadores para discutir mídias, tecnologias e saúde da criança e do adolescente. Na audiência, realizada na noite de terça-feira (28), no plenário do Legislativo, duas propostas básicas foram apresentadas como forma de ampliar o debate sobre o impacto das tecnologias e mídias eletrônicas no desenvolvimento das crianças: a criação da Semana Municipal de Sensibilização do Uso de Tecnologias por Crianças e Adolescentes e que o município, através do Poder Público, promova campanhas de orientação e educação para pais e professores em relação ao uso das tecnologias. Um dos destaques da audiência, um dossiê da Associação Brasileira do Sono, também deve ser disponibilizado aos professores e gestores de escolas do Núcleo Regional de Ensino e para a Secretaria Municipal de Educação.

Participaram da audiência, presidida pelo vereador Fernando Hallberg (PPL), a secretária municipal de Educação, Márcia Baldini; a chefe do Núcleo Regional de Educação, Luciana Paulista da Silva; a presidente do Congresso Brasileiro do Sono 2019, Carolina Ferraz de Paula Soares; a psicóloga Josimara Duarte, da Semed; a dentista e representante do Grupo de Estudos de Profissionais da Saúde da Criança e do Adolescente (GEPSCA), Ana Paula Menolli; a fonoaudióloga e pedagoga especializada em educação inclusiva, Deborah Zarth Demenech e o conselheiro tutelar Gustavo de Brito.

Márcia Baldini destacou que a influência das mídias eletrônicas na saúde física e mental das crianças precisa mesmo ser amplamente debatida pela sociedade e pelos profissionais que trabalham com crianças e adolescentes. Para ela, as escolas, em particular, não podem desconsiderar as características culturais das gerações nascidas no ambiente digital, discutindo principalmente a segurança desse público e os conteúdos. A secretária lembrou que o tema já está no currículo escolar da rede pública de Cascavel, em trabalhos realizados na área de informática educacional e em laboratórios de robótica, inclusive com ações que envolvem pais e mães nas escolas.

Deborah Zarth Demenech disse que na área clínica já se percebe diariamente o impacto do uso de tecnologias quando se verifica que famílias e até profissionais ainda não conseguem relacionar uma queda na qualidade da saúde física e mental das crianças pelo uso precoce e exagerado das tecnologias digitais. Ela destaca, inclusive que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que as crianças de até dois anos não tenham acesso às telas, como de smartphones, tablets e computadores. “Disponibilizar essas telas às crianças precocemente é promover prejuízos ao desenvolvimento psicomotor”, adverte a fonoaudióloga e pedagoga.

Outro dado importante destacado pela especialista é que 50% da população infantil apresenta alterações na linguagem também por conta do uso dos novos recursos digitais.

Outra especialista participante da audiência pública, Carolina Ferraz, que é médica do sono e coautora das diretrizes brasileiras de ronco e apneia da Associação Médica Brasileira, também disse que há aumento nas alterações de comportamento, como comportamentos opositores e desafiadores, irritabilidade e déficit de atenção, associado ao uso frequente e precoce de tecnologias digitais.

A médica trouxe uma série de dados inclusive revelando a perda auditiva associada ao uso de celulares e fones de ouvido. Ela citou estudos que comprovam o quadro de presença de zumbidos pelo uso individual de telas com fones. Para ela, os dados desafiam profissionais e gestores públicos, porém, as tecnologias estão cada vez mais presentes e banalizadas na sociedade. “Precisamos entender que nada substitui a relação humana. A substituição dela pela chamada relação de telas, pelas mídias digitais, nos rouba o desenvolvimento, a qualidade de vida, nos rouba até a audição”, afirma.

Carolina Ferraz também citou uma diretriz da Organização Mundial da Saúde (OMS), que associa o uso das tecnologias com uma série de problemas como o aumento do sedentarismo, a inibição do sono profundo, a alteração nos hábitos de sono e o aumento ou piora dos distúrbios de sono. “Uma criança, até os dois anos de vida, precisa de 11 a 14 horas diárias de sono de qualidade para um desenvolvimento adequado. Uma criança com três ou quatro anos, deve ter, no máximo, uma hora diária de contato com as telas, incluindo TV”. Essas e outras informações, reitera, precisam ser levadas aos pais e a todos os profissionais que trabalham com as crianças e adolescentes. “Todos precisamos entender que as crianças aprendem conforme o comportamento dos adultos”, disse, ao explicar sobre os malefícios do celular para a audição e que as crianças são mais sensíveis às ondas eletromagnéticas. “A sociedade não pode permitir que as crianças tenham perdas auditivas em razão do uso ilimitado do celular. É imprescindível educar sobre isso e resgatar o contato humano”, avalia.

Assessoria de Imprensa/CMC