Economia

Tarifaço pode impactar vendas de suco de laranja, café, carne e frutas

21 jul 2025 às 09:03

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de estabelecer uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA pode comprometer receitas do agronegócio brasileiro, provocar desequilíbrios de mercado e pressionar os valores pagos ao produtor. O alerta é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).


Segundo o Cepea, os itens mais expostos ao tarifaço de Trump são o mercado de suco de laranja, o setor cafeeiro, a pecuária de corte e o de frutas frescas.


Dentre esses, o suco de laranja é o produto mais sensível a essa política tarifária. “Já incide uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada e a sobretaxa de 50% elevaria o custo de entrada nos EUA, comprometendo a competitividade no segundo maior destino dos embarques brasileiros”, explicam os pesquisadores.


Os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por 80% desse total. Com o canal norte-americano sob risco, o acúmulo de estoques e pressão sobre as cotações internas tornam-se prováveis, especialmente em um momento de boa safra em São Paulo e Triângulo Mineiro.


No setor cafeeiro, os EUA são o maior consumidor global e importam cerca de 25% do café brasileiro, especialmente da variedade arábica, essencial para a indústria local. A elevação do custo de importação deve comprometer a cadeia interna, envolvendo torrefadoras, cafeterias, indústrias de bebidas e varejo.

“A exclusão do café do pacote tarifário é estratégica para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira e para a cadeia norte-americana”, destaca o pesquisador do Cepea, Renato Ribeiro.


Sobre a carne bovina, os EUA são o segundo maior comprador da carne brasileira, atrás da China, que concentra 49% das exportações. Recentemente, houve redução nas exportações para os EUA, mas crescimento para a China e outros mercados, indicando possibilidade de ampliação em outros destinos.


No mercado de frutas frescas, o maior impacto imediato é na manga, cuja janela crítica de exportação para os EUA começa em agosto. Já há relatos de postergação de embarques devido à indefinição tarifária. A uva brasileira, com safra importante a partir da segunda quinzena de setembro, também está em alerta.


Antes do tarifaço, a expectativa era de crescimento das exportações de frutas frescas, sustentada pela valorização cambial e recomposição produtiva. Agora, há risco de desequilíbrio entre oferta e demanda, pressionando preços ao produtor. Frutas podem ser redirecionadas a outros mercados, como a União Europeia, ou absorvidas pelo mercado interno.


Diante do cenário, o Cepea alerta para a urgência de uma articulação diplomática coordenada, visando a revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros.


“Essa medida é estratégica para o Brasil e para os próprios EUA, cuja segurança alimentar e competitividade da agroindústria dependem do fornecimento brasileiro”, conclui a nota.