O sul do Brasil vive o encerramento da temporada do pinhão. No Paraná, a semente da araucária é mais que um alimento: movimenta a economia e a cultura de milhares de famílias, especialmente na região central do estado.
No município de Pinhão, que leva o nome da semente, a tradição é levada a sério. Neste ano, no entanto, a safra foi menor. Na casa da agricultora Janete Ferreira, o pinhão assado na chapa do fogão a lenha é tradição.
A araucária, símbolo do sul do Brasil e espécie em extinção, leva de 12 a 15 anos para produzir os primeiros frutos. Com técnicas como o enxerto, esse tempo pode ser reduzido pela metade. A venda do pinhão no Paraná foi liberada em abril.
Segundo Dirlei Manfio, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), o ciclo da araucária atrasou neste ano. O pinhão só ficou no ponto para consumo no fim de abril e início de maio.
Mesmo com o clima favorável, a produção foi abaixo do esperado. Em Pinhão (PR), município com cerca de 30 mil habitantes e um dos maiores produtores de pinhão do Brasil, a safra foi cerca de 50% menor que a do ano passado.
De acordo com Dirlei, fatores climáticos e a colheita precoce contribuíram para a baixa. Temperaturas elevadas e a derrubada de pinhas verdes afetaram a produção: "A safra de pinhão nesse ano foi muito pequena. Nós agora estamos em pleno inverno e praticamente já está encerrando a produção e a disponibilidade de pinhão na região."
No Paraná, é proibido retirar ou vender pinhão verde ou amarelo. A multa pode chegar a 300 reais por 50 quilos, e o infrator pode responder por crime ambiental. A fiscalização tenta garantir o futuro da araucária.
Além do consumo tradicional – assado ou cozido –, o pinhão também é preparado na sapecada, técnica típica da região. Para isso, é usado o sapé da própria araucária.
O agricultor João Ferreira, morador de Pinhão, cresceu na lida campeira catando pinhão. Ele conta que há diversas formas de preparo, como paçoca de pinhão e pinhão com sal e café no café da manhã. O consumo costuma ser acompanhado de chimarrão.
Para o agricultor Odacil Martins, a tradição é motivo de orgulho. Ele afirma com convicção: ''Ser paranaense de verdade.''