Após a condenação de 28 anos em regime fechado de Renan Júlio Bueno Fogagnollo pelo feminicídio de Ingrid Fernanda Costa Ferreira, o Néias - Observatório de Feminicídios Londrina se diz bastante satisfeito com a sentença. O grupo de feministas ativistas se organiza para dar visibilidade e acompanhar o julgamentos de feminicídios e, no tribunal realizado nesta quinta-feira (27), criticou a estratégia da defesa do réu.
“Foi um resultado exemplar no que se refere a defender a memória da vítima e a dignidade. O andamento do julgamento foi bastante preocupante porque a defesa usou sistematicamente formas de revitimização, tanto da Ingrid quanto da mãe dela, que esteve presente no julgamento”, disse a coordenadora do Néias, Silvana Mariano.
Renan foi condenado por feminicídio qualificado com duas agravantes: motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. O crime aconteceu em 2019, quando a vítima tinha 17 anos, no Residencial Flores do Campo, na zona norte de Londrina. Segundo a acusação do Ministério Público, inconformado com o fim do relacionamento, Renan teria atirado em Ingrid na frente dos pais dela. O Siate chegou a ser acionado, mas Ingrid morreu antes da chegada do socorro.
Segundo o advogado do réu, Eduardo Caldeira, ele não foi condenado por unanimidade e a defesa perdeu o tribunal por apenas um voto. A defesa entrará com recurso e espera que a pena seja diminuída e que ele cumpra em regime semiaberto ou até mesmo aberto.
De acordo com Silvana, para sustentar a tese de homicídio privilegiado, a estratégia da defesa foi dizer que Ingrid provocava o acusado e ele agiu de forma justificada em resposta a uma provocação dela. “Essa argumentação inverte os papeis e coloca a vítima como responsável pelo ato do real e, portanto, responsável pela própria morte. E coloca o réu como vítima, havendo inversão se papel”, disse.
“O privilégio de matar mulher só pode ser uma tese sustentada em uma sociedade reconhecidamente patriarcal. Isso é uma aberração. Felizmente, isso é raro de acontecer nos tribunais brasileiros, mas o Ministério Público se levantou por duas vezes fazendo contraponto a esse tipo de defesa que vai contra a decisão recente do Supremo Tribunal Federal. Nós não podemos, nos dias de hoje, admitir que haja o privilégio de matar uma mulher”, afirmou Silvana.