Até 2015, o Brasil tinha quase 4 mil cursos de pós-graduação, segundo dados da Capes (Coordenação de Pessoal de Nível Superior). Um número elevado para um país que ainda tinha poucos universitários até o final dos anos 1990 e que teve um crescimento significativo de alunos no ensino superior nos últimos dez anos.
O crescimento é significativo, já que, em 1980, o Brasil tinha apenas mil ofertas de cursos. Dez anos depois, o número aumentou em apenas 40%, o que não significou melhora na qualidade do ensino. De lá para cá, o país quadruplicou as possibilidades de um aluno se pós-graduar, mas ao mesmo tempo centralizou as ofertas: quase a maioria das grades de pós-graduação está imersa na massiva regionalização de instituições de ensino.
“A maior parte do alunado e das titulações está localizada em pouco mais de meia dúzia de instituições, concentradas na região Sudeste, refletindo uma heterogeneidade do ensino superior que, em geral, permanece oculta nos embates ideológicos entre instituições públicas e privadas ou é escamoteada pelos interesses corporativos das universidades federais”, diz a professora Eunice Durham, do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior (Nupes) da Universidade de São Paulo.
O problema é mais antigo do que aparenta: em 1989, dos 32 mil alunos matriculados em cursos de pós-graduação no Brasil, 23,7 mil estavam no Sudeste. O Nordeste tinha apenas 160 e o Norte, por incrível que pareça, tinha apenas 28 pessoas nesse nível de aperfeiçoamento naquele ano. A principal universidade brasileira já era a USP, em São Paulo.
Hoje isso se visualiza no número de instituições que oferecem cursos de pós-graduação avaliados com nota acima de 7 pelo Capes: 77 estão em São Paulo, 27 no Rio de Janeiro e 18 em Minas Gerais. No Nordeste, há apenas um curso na Bahia. No Norte, nenhuma menção.
Em julho de 2015, para piorar a situação, o governo federal cortou 5% da verba do Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), que era utilizada para custear as locomoções de pesquisadores e os trabalhos de campo de diversos pós-graduandos pelo país. Da mesma forma, os recursos que a Capes recebe para pagamento de bolsas de estudo caíram de R$ 7,4 bilhões em 2015 para R$ 5,3 bilhões em 2016. Os valores caíram ainda mais nos anos seguintes e, segundo Paulo Guedes, ministro da Economia, os cortes seguirão neste ano.
“Fazer ciência no Brasil não é fácil, é quase um altruísmo”, reclama Ana Maria Carneiro, do Laboratório de Estudos de Educação Superior da Unicamp.
Segundo o Capes, o Brasil tinha 325 mil alunos matriculados em algum curso desse nível em 2015 ー em um ranking com outras 37 nações elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país só ficou à frente de México e Chile em número de mestres e doutores. Sem saída, os alunos distantes dos grandes centros procuram atenuar a ausência de ofertas fazendo cursos de pós-graduação EAD (Ensino a distância).
Um exemplo é o advogado acreano Antônio Lopena, de 23 anos, que acabou de concluir o curso EAD de Direito por uma universidade mineira e está prospectando ofertas de Direito Empresarial ー a área que escolheu para atuar ー em instituições do Sudeste que ensinem à distância. "Tenho meus horários, faço meu plano de estudos e todo o material que enviam é muito bom. Estou conseguindo até estagiar em um escritório por causa do curso”, diz ele. “Foi a alternativa que encontrei para não ficar sem estudar”, finaliza.