Talvez nem o próprio Agenor Piccinin saiba disso. Seu primeiro nome tem origem na língua grega e vem do ‘Agénos’. O significado é ‘aquele que tem muita força’. E força não faltou ao Toledo na campanha do vice-campeonato do Paranaense de 2019. A história da Grécia Antiga é cheia de relatos, alguns verdadeiros, outros míticos, de feitos heroicos. O mais expoente deles foi Hércules. De acordo com uma rápida pesquisa, Agenor foi um antigo rei da Fenícia, cujo território atual abriga a Síria. Essa mesma pesquisa deu a entender que Agenor foi um personagem real, mas o trata como filho de Poséidon, o deus dos mares na Grécia Antiga. Não há relatos de feitos heroicos de Agenor, diferente do que ocorre com Hércules, ou de outros personagens reais como Alexandre, o Grande. O que sei é que os fenícios dominaram os mares e a navegação. Essa era a força daquele povo.
Agenor Piccinin se parece com o seu ‘xará’, o rei fenício. Talvez a história nem irá citar o seu nome como deveria depois do último domingo (21). Outros personagens até receberão louros mais avantajados pelo que fizeram, caso do goleiro André Luiz, eleito o craque do Campeonato Paranaense.
Mas essa campanha só foi possível graças ao pulso firme, a liderança e a força de Agenor Piccinin. Foi ele quem começou essa história lá atrás, nos primórdios do Toledo Esporte Clube. Foi trazido de volta para comandar o time neste estadual. Aliás, Piccinin tinha um orçamento ínfimo para montar a equipe. “Nosso orçamento, se não foi o menor, foi, sem dúvida, um dos dois menores do Estado. Nós concluímos o campeonato com quatro jogadores ganhando mil reais. É um valor irrisório, um salário muito baixo, para um time que disputou a final do campeonato. Temos vários exemplos de equipes que trabalham com uma folha de pagamento elevada e não conseguem o sucesso. Nós trabalhamos com uma folha salarial baixíssima, até porque os recursos eram muito poucos”, explicou Piccinin.
Justamente por isso, o Toledo não era apontado como favorito. Pelo contrário, era contado como um dos candidatos ao descenso. Mas Agenor Piccinin alicerçou a campanha do clube na força e viu a chance de ser finalista do Paranaense se vencesse o primeiro turno. Conseguiu isso com uma campanha invicta. Em oito partidas, foram duas vitórias e seis empates. De maneira heroica, o Toledo passou pelos favoritos Operário e Coritiba, com o drama das penalidades, e faturou a Taça Barcímio Sicupira. “O planejamento do primeiro turno foi modelo para todos os times do interior. Ele foi montado em cima da minha experiência profissional. Fui sete anos preparador físico e conheço profundamente o futebol do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Eles se assemelham bem. Quando faltavam dez, onze jogadores, para fechar o grupo para o Estadual, eu busquei atletas com este perfil, de futebol mais vigoroso. Montamos uma programação basicamente no trabalho de força para buscar esse primeiro turno. Inclusive, pulverizamos isso no meio esportivo de que o nosso campeonato era o primeiro turno”, explicou o treinador.
A conquista da Taça Barcímio Sicupira pelo Toledo recolocou o futebol do interior do Estado na decisão do Paranaense, algo que não acontecia desde 2015. E deu um bônus ao Porco de Agenor Piccinin: o clube garantiu um calendário nacional para 2020 com a inédita classificação para a Copa do Brasil e uma vaga na Série D do Brasileiro . “Isso coroou uma Copa do Brasil, uma Série D, uma vaga na final e o fato de se manter na primeira divisão. Nosso primeiro passo neste Paranaense era não cair para a segunda divisão. Se isso acontecesse, buscaríamos uma vaga na Série D para ter calendário para o ano que vem”, reconheceu Agenor.
Segundo turno
Imagino que Agenor Piccinin tenha sido questionado por que o Toledo não conseguiu manter a invencibilidade no segundo turno. Na segunda metade do Estadual, o Porco fez cinco jogos com três derrotas e dois empates. Dessa forma, na somatória da classificação geral, que leva em conta as onze rodadas das fases iniciais das duas taças, o Toledo ficou com uma campanha de rebaixado, abaixo do Maringá, que caiu para a segunda divisão.
Agenor Piccinin explica que viu a necessidade de reforçar o elenco para a Taça Dirceu Krüger. Ele sabia que os clubes mais tradicionais teriam a obrigação de conquistar uma vaga na final do Estadual e a competição se tornaria mais difícil. Prova disso é que equipes que fizeram boas campanhas no primeiro turno não conseguiram repetir o desempenho, casos de Futebol Clube Cascavel (FCC) e Operário de Ponta Grossa, que também foram semifinalistas no primeiro turno. Só que os recursos do Toledo continuaram limitados. E o Porco não conseguiu manter a campanha.
A final
Mesmo assim, com elenco enxuto e orçamento limitado, o Toledo não se abateu diante do Athletico-PR na decisão. Foi forte. Foi guerreiro. Até venceu o jogo de ida por 1 a 0 no dia 14 de abril, em casa, o que lhe rendeu a vantagem de jogar pelo empate na partida de volta. Quando os mais incrédulos esperavam que o Porco fosse goleado no segundo jogo, o time se superou perdeu apenas por 1 a 0, com um gol irregular, na visão de Agenor, e perdeu a taça do Estadual nos pênaltis. “Foi uma grande final. Nós, com nossas limitações, conseguimos segurar uma equipe com o poderio do Athletico, que tem um time capaz de formar quatro equipes. E digo mais, se não fossem os erros de arbitragem, nós teríamos segurado o desejado empate no jogo de volta, não ter as penalidades e ter saído com o título. O árbitro marcou duas faltas que não ocorreram e uma delas gerou o gol do Athletico", concluiu.