A escritora catarinense Edla van Steen, que estava radicada em São Paulo há pelo menos 40 anos, morreu nesta sexta-feira, 6, em decorrência de complicações cardíacas. Ela estava internada havia alguns dias em São Paulo.
Autora e organizadora de dezenas de livros, entre ficção, peças teatrais, publicações críticas e jornalismo, ela recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, foi durante muito tempo colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo e era nome onipresente na discussão intelectual e literária do Brasil.
Nascida em Florianópolis em 1936, Edla viveu alguns anos em Curitiba antes de se mudar definitivamente para São Paulo. Seu primeiro emprego foi numa rádio - e ela lia e encenava cartas de amor e outros relatos de ouvintes. Um primeiro livro de contos, escrito nessa época, quando ela tinha pouco mais de 16 anos, se perdeu na capital paranaense.
Seu primeiro livro de contos, Cio, foi publicado em 1965. De lá para cá, foram cerca de três dezenas de livros de sua autoria, e, segundo suas próprias contas, ela contabilizava pelo menos outros 300 volumes que editou ou organizou.
Foi com a editora Global que Edla organizou as séries Melhores Poemas, Melhores Contos e Melhores Crônicas, que contam com pelo menos 100 autores e organização e apresentação de diversos grandes nomes.
Edla também dirigiu, entre outras séries, a importante coleção Roteiro da Poesia Brasileira, com 15 volumes. A Global ainda publicou diversos de seus romances e contos, como Corações Mordidos, No Silêncio das Nuvens, O Gato Barbudo e A Revolta.
Ela também teve incursões em outras carreiras do campo artístico: foi atriz (seu papel mais lembrado é no filme Na Garganta do Diabo, de Walter Hugo Khouri, em 1960), roteirista, redatora publicitária, tradutora e galerista.
O crítico de teatro Sábato Magaldi (1927-2016) foi seu terceiro e definitivo casamento, que durou 37 anos, até a morte dele. Em 2015, um ano antes de sua morte, foi lançado Amor ao Teatro: Sábato Magaldi, coletânea de 1.200 páginas que ela organizou e que reúne a produção crítica do marido publicada no Jornal da Tarde entre 1966 e 1988.
"Com muito pesar comunico a morte de Edla van Steen, uma grande ficcionista, uma batalhadora incansável em prol da literatura brasileira, que tanto divulgou através das centenas de títulos que editou na coleção Melhores (Poemas / Crônicas / Contos) da Global", escreveu o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin.
"Linda, inteligente, humor afiadíssimo, a escritora e dramaturga Edla van Steen nos deixa hoje. Viúva do saudoso Sábato Magaldi, mãe de três talentos de brilho próprio - Anna Van Steen, Lea Van Steen e Ricardo Van Steen - era a anfitriã perfeita. O segredo talvez estivesse no fato de ter genuíno prazer em receber - nem que fosse para depois arrancar humor das situações e tipos. Foi musa de Glauber e outros cineastas à época, e só não seguiu carreira de atriz porque as circunstâncias de vida não permitiram. Mas está lá, imortalizada, nas cenas de Na Garganta do Diabo de Walter Hugo Khoury. Sua memória perdurará em sua obra e na lembrança dos que tivemos a sorte de entrar em sua órbita", escreveu Aimar Labaki.
"Edla é a grande colaboradora, o principal eixo cultural, na implantação desde o início da década de 1980 da linha editorial da Global Editora, hoje com suas bases totalmente fincadas na literatura brasileira", disse o fundador da editora, Luiz Alves Júnior, em nota. "Uma vida dedicada a promover e valorizar a intelectualidade do país. A qualidade da editora se confunde com a qualidade do trabalho dela", assinalou ainda.
Sobre a amiga, Ignácio de Loyola Brandão escreveu, no blog da editora: "Sempre divertida, companheira, defensora do profissionalismo em nossos ofício. Gostava de descobrir e lançar novos autores ou mesmo os que estavam perdidos no tempo e eram bons".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.