Em novembro de 2013, um terrível incêndio atingiu o Memorial da América Latina, em São Paulo, destruindo todo o interior do Auditório Simon Bolívar, incluindo a histórica tapeçaria encomendada pelo arquiteto Oscar Niemeyer à artista Tomie Ohtake. Durante os quatro anos que ficou interditado, o espaço passou por reforma completa e, agora, voltará a ativa. Com sua reabertura marcada para o dia 16 de dezembro, o local retorna ao público com o show Jazz & Divas - Uma Homenagem a Elza Soares.
Mas para chegar no resultado de restauração do espaço, projetado há 30 anos por Niemeyer, a fundação que mantém o Memorial, entidade ligada ao governo do Estado de São Paulo, angariou pouco mais de R$ 40 milhões. Para a primeira fase, avaliada em R$ 6,5 milhões, a perícia, que não detectou falhas na estrutura, indicou um procedimento chamado hidrojateamento - finos jatos d'água com alta pressão -, que "descascou" a superfície queimada da abóbada do auditório, explica o atual diretor do Memorial Irineu Ferraz. "O concreto danificado foi retirado e substituído. Parte dos recursos veio do seguro contra incêndio."
As próximas fases compreenderam a reforma hidráulica, elétrica, de acessibilidade, além de toda parte de luminotécnica, cenotécnica e ar-condicionado, destruídos pelas chamas, o que custou R$ 28,8 milhões. "Ainda fizemos a aquisição de poltronas, com tratamento antichama e readequamos o auditório para atender as exigências do Corpo de Bombeiros", acrescenta Ferraz, que fecha a soma com R$ 6,1 milhões.
Com a destruição do interior do auditório, a recriação da tapeçaria de Tomie, morta em 2015, foi conduzida pela própria artista plástica. Na época, ela apresentou um desenho que foi ampliado para confecção da obra de 800 m², pelas mãos dos mesmos artesãos que executaram o original e que hoje têm ambições mundiais de integrar o Guiness Book. "A peça foi produzida como um mosaico, parte por parte, enviada para cá e montada aqui", explica Ferraz. "Estamos pleiteando um lugar no Livro dos Recordes, como a maior tapeçaria já produzida na história."
Com tamanha e nova estrutura, a direção do Memorial concebeu um show que terá uma Elza Soares rodeada de estrelas. A homenagem virá com um time feminino, que vai cantar para a mulher do fim do mundo. "Queríamos um show que fosse original em suas atrações, mas que também trouxesse uma figura icônica para receber este tributo. E esse foi o ano de Elza", explica o diretor de atividades culturais Allex Colontonio. Antes que a cantora suba no palco, virão Baby do Brasil, Sandra de Sá, Paula Lima, Rosana, Vânia Bastos, Liniker e As Bahias e a Cozinha Mineira. "Tentamos cercar esse show com cantoras que estivessem relacionadas ao passado de Elza, como foi com Baby, que aprendeu as onomatopeias do jazz ouvindo Elza no rádio, a música preta popular, de Sandra de Sá, até um movimento mais contemporâneo, político e que discute gênero, com Liniker, Assucena Assucena e Raquel Virgínia", diz Colontonio.
O show é coroado com a entrada da carioca eleita em 1999 como a cantora brasileira do milênio pela rádio BBC de Londres. Em entrevista à reportagem, por telefone, Elza não escondeu a surpresa pelo convite. A cantora, que fez show recentemente em São Paulo ao lado de Iara Rennó, se apresenta ainda esse ano na Bahia. "Fiquei muito feliz pelo convite, mas ainda não sei de muita coisa, deixaram tudo às escondidas para me fazer surpresa", diz. "Sou a primeira mulher brasileira homenageada nesse espaço. É muita honra para mim."
Sobre o futuro, Elza só antecipou que em fevereiro do ano que vem entra em estúdio para gravar seu novo álbum, mas preferiu não divulgar o título. Para o show no Memorial, ainda não escolheu as canções. "Também tenho as minhas surpresas."
JAZZ & DIVAS - UMA HOMENAGEM A ELZA SOARES
Memorial da América Latina. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664. Tel.: 3823-4600. Sáb., 21h. R$ 140 / R$ 50.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.