O ovo consolidou-se como um dos protagonistas na mesa das famílias brasileiras, com um consumo médio que já atinge a marca de quase 300 unidades por pessoa ao ano. Considerado uma das fontes de proteína mais acessíveis e completas, ele esconde, por trás da casca, uma complexa e fascinante jornada biológica que ocorre dentro da ave em um curto espaço de tempo.
Apesar de ser um ingrediente rotineiro em receitas que vão do café da manhã ao jantar, poucos consumidores conhecem a "linha de produção" natural necessária para que o alimento chegue às prateleiras.
O processo todo ocorre no oviduto da galinha, onde o ovo percorre um caminho de aproximadamente 70 centímetros. E toda essa trajetória leva apenas um dia para ser concluída, exigindo um metabolismo acelerado e preciso da ave.
A jornada de 24 horas
O ciclo começa com a liberação da gema, que biologicamente é uma única célula proveniente do ovário da galinha. A partir desse momento, o organismo da ave inicia um trabalho contínuo de adição de camadas.
Nas primeiras horas após a liberação da gema, ela é envolvida pela albumina, substância popularmente conhecida como clara. Na sequência, o sistema reprodutor da ave forma duas membranas finas e resistentes ao redor desse conteúdo. Essas películas funcionam como uma barreira protetora inicial para a estrutura interna.
No entanto, a etapa que exige mais tempo e energia da galinha é a finalização externa.
A formação da casca leva cerca de 20 horas para ser totalmente concluída. É justamente nessa fase final que a cor do ovo é definida, uma característica que, segundo as informações levantadas, está diretamente ligada ao modo de criação e manejo da ave.
Diferenças entre ovo de granja e caipira
Uma dúvida comum entre os consumidores refere-se às diferenças entre o ovo de granja (industrial) e o caipira. A resposta está na dieta e no ritmo de postura das aves. Com os atuais avanços genéticos e nutricionais do agronegócio, as galinhas de granja recebem uma dieta estritamente balanceada para maximizar a produção.
Segundo especialistas do setor, essa alimentação atende a todas as exigências nutricionais da espécie, permitindo que a galinha de granja ponha, praticamente, um ovo por dia. Já no sistema caipira, a dinâmica é outra. Criadas em ambientes livres, essas aves têm uma dieta variada que inclui plantas e pequenos insetos encontrados no solo.
Essa alimentação natural influencia diretamente na pigmentação. Um dos especialistas entrevistados explica a relação entre o tempo de produção e a cor:
"Pelo fato de ela [a galinha caipira] demorar 3 até 4 dias para por um ovo, esse ovo acaba sendo mais pigmentado."
Portanto, a concentração de cor na gema do ovo caipira é resultado de um ciclo de produção mais lento, que permite um acúmulo maior de pigmentos absorvidos da alimentação natural.
O dilema: quem veio primeiro?
Mesmo com todo o conhecimento técnico sobre a fisiologia da galinha e a produção de ovos, uma questão milenar permanece sem consenso absoluto, até mesmo entre pesquisadores.
A ciência ainda debate se o ovo surgiu antes da galinha ou vice-versa.
"Há estudos que indicam que o ovo surgiu muito antes da galinha, outros dizem o contrário, e aí?", questiona o especialista ouvido pela reportagem.
Enquanto o dilema filosófico e evolutivo segue sem uma resposta definitiva, o setor produtivo foca na certeza de que o alimento continua essencial. Seja na granja com alta tecnologia ou no quintal caipira, o ovo mantém seu papel central na nutrição e na culinária do Brasil.