São duas décadas acolhendo e prestando suporte médico e interdisciplinar a crianças com problemas de desenvolvimento e suas famílias. Criado em 2001, o projeto Espaço Escuta de Londrina – Centro Interdisciplinar de Avaliação e Tratamento dos Problemas de Desenvolvimento, está celebrando 20 anos de história em agosto. A instituição, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) é credenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e possui convênio com a Prefeitura de Londrina desde 2007. Para comemorar o aniversário, o Espaço Escuta realiza eventos on-line nesta sexta-feira (27) e sábado (28) – mais detalhes ao final da matéria.
O projeto atende hoje 87 famílias londrinenses, de forma gratuita, ofertando avaliações, acompanhamento e atividades permanentes para bebês e crianças de 0 anos a 5 anos e 11 meses, e gestantes de risco ou com necessidades específicas, inseridas no público-alvo. O trabalho beneficia pessoas com problemas de diferentes ordens, seja de base orgânica ou psíquica, como Transtorno Espectro Autista (TEA), neuroses, psicoses, depressão, síndromes, paralisia cerebral, com atrasos globais de desenvolvimento e bebês prematuros ou com má formação.
Além disso, é dado suporte às famílias e desenvolvidos cursos de capacitação para profissionais da saúde, educação e assistência social, entre outros segmentos. Dentre diferentes fontes financeiras, o Espaço Escuta recebe recursos da rede de atendimento a pessoas com Distúrbio Intelectual e Transtorno Global do Desenvolvimento (DITGD) da Prefeitura de Londrina. A Secretaria Municipal de Saúde repassa ao projeto, mensalmente, cerca de R$ 55 mil para custeios das equipes profissionais e realização dos atendimentos.
Para o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, o empenho da competente equipe do Espaço Escuta faz muita diferença na vida de várias famílias. “Cumprimento toda a abençoada equipe do Espaço Escuta, e os parabenizo pelos 20 anos de aniversário. O Espaço Escuta é um parceiro da Prefeitura, e há décadas desenvolve um trabalho importantíssimo, de qualidade, voltado ao atendimento das crianças com vários tipos de deficiência. É uma instituição especializada e que, cada vez mais, vem se tornando referência na estimulação precoce, que ajuda muito os bebês com deficiência em seu desenvolvimento físico ou cognitivo. Que possam vir mais 20, 30, 40 anos de sucesso, dedicação e amor ao próximo”, afirmou.
Por meio do Espaço Escuta, as crianças têm a chance de receber atendimento precoce, totalmente gratuito, feito por uma equipe interdisciplinar com psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, fonoaudiólogos, neuropediatras, assistentes sociais, além de especialidades em estimulação precoce e psicomotricidade.
A entrada ao serviço ocorre pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que fazem avaliação e consulta referenciada para realizar os encaminhamentos necessários, até que as famílias sejam direcionadas a este projeto ou a uma das outras sete instituições conveniadas na rede de atendimento a DITGD. Um plano terapêutico é elaborado pela equipe profissional, que define quais formas de tratamento e atividades precisam ser aplicadas para cada pessoa. Este plano é renovado a cada três meses, podendo sofrer alterações, levando em conta as mudanças comportamentais e a evolução dos indivíduos.
Segundo a psicóloga e presidente do projeto, Maribél de Salles de Melo, uma das idealizadoras e fundadoras do Espaço Escuta, os 20 anos de trabalho são uma marca importante para reforçar a consolidação e relevância de uma iniciativa que já atendeu milhares de crianças e suas famílias em Londrina. “Com muita felicidade, podemos dizer que nosso objetivo inicial do projeto, há duas décadas, está sendo cumprido e mantido enquanto missão diária, que é oferecer atendimento interdisciplinar gratuito, com entrada via SUS, para quem necessita. O suporte em diferentes especialidades, juntamente com as capacitações, ajudam a prevenir e evitar o agravamento de distúrbios e problemas graves de desenvolvimento em crianças”, afirmou.
Maribél também enfatizou que as atividades e acompanhamento regulares permitem trabalhar a estruturação do indivíduo com dificuldades de desenvolvimento. “A ideia principal é que eles possam, de forma saudável, ser estimulados para se tornarem mais produtivos, desenvolver autonomia, construir pensamentos, hipóteses e projetos, formular diálogos e criar relações sociais. Esses são fatores importantes, trabalhar nas brechas existentes para que seja possível melhorar a vida dessas pessoas e ajuda-las a evoluir. Existem muitas crianças, de acordo com seus perfis, que conseguem reverter completamente seu problema, e outras evoluem de forma significativa, precisando manter apenas algum acompanhamento específico depois”, destacou.
Além disso, a presidente do projeto citou que este espaço conta com parcerias junto a outros centros e instituições, e a excelência dos serviços é levada como conhecimento compartilhado em diferentes formatos. “Nosso projeto se tornou referência para cidades em todo o Brasil e hoje realizamos diversos cursos que alcançam quase todos os estados do país. O trabalho é apresentado em congressos, simpósios e eventos, em mesas redondas, palestras, cursos e produção de artigos científicos publicados em livros e revistas especializadas”, concluiu.
Atendimentos – Atualmente, cada uma das 87 famílias recebe cerca de 12 a 15 atendimentos por mês, com frequências variadas, podendo ocorrer em uma, duas ou três vezes por semana, conforme cada quadro e planejamento. As atividades, individualizadas ou em grupo, são realizadas na sede do Espaço Escuta, localizado na Rua Paes Leme, 1.101. A unidade conta com seis salas de atendimento clínico e área externa para atividades em grupo e outras. Com o propósito de promover a inclusão, a maioria das crianças é da rede pública de ensino, mas há também algumas que estudam no ensino particular regular.
Também há atendimentos especiais com visitas às residências, quando necessário, e outros projetos como o Espaço Amarelinha, um grupo de convivência e escuta que atende de quatro a oito famílias ao mesmo tempo, com acompanhamento de dois profissionais. Nessa atividade, com duas horas de duração, as crianças são estimuladas e podem aprimorar a organização de suas relações com outras pessoas, preparar sua autonomia, e os pais trocam experiências a partir da evolução dos filhos. E outras vivências ocorrem em áreas públicas como praças, para que as crianças mais velhas e desenvolvidas possam realizar tarefas fora de casa ou aprender a pegar um ônibus, por exemplo.
Mães, pais e responsáveis contam com escuta individualizada e podem participar de grupos, fortalecendo o intercâmbio de conhecimentos, reflexões e vivências. Conforme as crianças se relacionam com outras, podem ser agrupadas em duplas ou trios, trabalhando a relação com o semelhante de forma favorável ao desenvolvimento.
Apesar de a faixa de idade estabelecida para ingressar no projeto ser até 5 anos e 11 meses, o Espaço Escuta continua acompanhando crianças, pré-adolescentes e adolescentes de todas as idades, conforme a evolução dos quadros de cada pessoa. Isso ocorre porque muitas crianças quando são pequenas podem apresentar características e comportamentos que apontam para problemas de desenvolvimento ligados às condições de transtorno e outras; mas, conforme crescem, sendo estimuladas adequadamente, podem reverter totalmente sua condição.
Escolas – O Espaço Escuta desenvolve ações junto às escolas onde estudam as pessoas atendidas. Profissionais do projeto vão até as unidades escolares para trabalhos de observação e análise, podendo conversar e intermediar com os professores, verificando as relações de atitude e resposta para as situações do dia a dia e de convivência durante as aulas. Os professores também participam de reuniões com integrantes do projeto, e podem tirar dúvidas em grupos on-line.
Capacitações – O Espaço Escuta já realizou diversos cursos e atividades formativas ao longo dos seus 20 anos de existência. Atualmente, são três cursos regulares com os temas “Psicanálise e transdisciplinas”, “Psicanálise com crianças” e “Neuroses Graves”. Essas ações são voltadas para profissionais da saúde, educação e assistência social, entre outros, e chegam a locais como as unidades de saúde, CREAS, CRAS, abrigos e setores da educação.
Outras capacitações ocorrem em parcerias com instituições e centros, e existem atividades em parceria com áreas de pediatria e enfermagem junto à UEL e Hospital Universitário (HU), por exemplo, entre outras.
Agenda especial – Nesta sexta-feira (27), das 19h às 22h, o sábado (28), das 8h às 12h, e das 13h às 17h30, o Espaço Escuta realiza eventos comemorativos dos 20 anos, com o tema “A possibilidade da psicanálise no SUS”. As atividades serão em formato on-line, com participação exclusiva para convidados e inscritos previamente, sendo que as inscrições já se encerraram.
Na sexta (27), alguns membros fundadores terão oportunidade de falar aos participantes, relatando suas experiências no projeto e falando mais sobre a iniciativa. Depois, haverá palestra com o psicólogo e psicanalista Alfredo Jerusalinsky. Já no sábado (28) serão organizadas mesas-redondas com a equipe de profissionais do projeto, abordando diferentes assuntos. O encerramento será com palestra da psicóloga Julieta Jerusalinsky, parceira do Espaço Escuta. Quem se interessar pelo projeto Espaço Escuta pode acessar as redes sociais, no Facebook e Instagram.