Uma reunião de rotina que estava previamente agendada entre a representante do Brasil em Teerã e autoridades iranianas foi desmarcada nesta quarta-feira, 8. Segundo o Itamaraty, o encontro foi adiado a pedido do governo brasileiro por considerar que "o atual momento é delicado". A ideia é esperar o retorno ao país do embaixador Rodrigo Azeredo, que está de férias.
"A reunião para tratar de temas culturais estava agendada e foi adiada a pedido do Brasil, no entendimento de que o atual momento é delicado. O assunto será reanalisado oportunamente, quando do regresso do Embaixador do Brasil em Teerã ao posto, e uma nova data para o encontro deverá ser agendada", informou o Ministério de Relações Exteriores ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Esta seria a segunda conversa em uma semana que a encarregada de negócios da embaixada brasileira em Teerã, Maria Cristina Lopes, teria com os iranianos. Há três dias, ela foi convocada a prestar esclarecimentos sobre a posição do Brasil em relação à morte do general iraniano, Qassim Suleimani, que ocorreu durante um ataque ordenado pelo governo dos Estados Unidos.
Na ocasião, segundo uma fonte, Maria Cristina enfatizou que a nota do Itamaraty sobre a morte de Suleimani não era contra o Irã e que há outros aspectos das relações bilaterias, como o comércio, que os brasileiros não gostariam de ver afetados.
O encontro desta quarta entre a diplomata brasileira e os iranianos havia sido agendado para tratar de cooperação de modo geral, com foco maior na área da cultura. "Seriam assuntos cotidianos das relações bilaterais", disse um integrante do Itamaraty que acompanha as conversas.
Além da nota do Itamaraty divulgada na última sexta-feira, 3, ter sido encarada como sinal de alinhamento aos Estados Unidos, a reação inicial do presidente Jair Bolsonaro também foi de apoio aos americanos. Na segunda-feira, ele disse que Suleimani "não era general".
Um dia depois, no entanto, Bolsonaro baixou o tom e evitou tocar no assunto diretamente. Questionado na terça-feira, 7, sobre o que quis dizer com a declaração sobre Suleimani, ele respondeu simplesmente: "Não, não, isso aí não. Próxima pergunta".
De acordo com uma fonte da ala militar do governo, Bolsonaro foi orientado por auxiliares a agir com cautela em razão da sensibilidade do tema e das implicações comerciais.