Todos os locais
Todos os locais
Mundo

'Crise permite ao líder autoritário justificar acúmulo de poder'

28 jun 2020 às 07:34
Por: Estadão Conteúdo

Daphne Halikiopoulou pesquisa temas como nacionalismo radical, políticas de exclusão e determinantes culturais e econômicos do apoio a partidos de extrema direita na Europa. Em abril, ela escreveu um artigo sobre como a pandemia expôs as fraquezas do populismo, mas também alimentou o autoritarismo.

Veja a seguir a entrevista que ela concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo.

Por que líderes populistas têm enfrentado especialistas?

É uma estratégia consciente. Não acho que eles acreditem que vão perder eleitorado. Acho que a outra opção - eles dizerem que acreditam nos especialistas - destruiria tudo o que disseram antes. E eles também não podem competir com os experts. Vão perder. Então a única alternativa é contestá-los e vencer na base da narrativa emocional. Quando a crise passar, as pessoas estarão mais preocupadas com as consequências econômicas. Então, a narrativa anticiência deve se tornar mais forte.

A crítica às respostas das organizações internacionais faz parte da estratégia populista?

Sim. É importante distinguir entre a extrema direita e o populismo. Isso faz parte da agenda do populismo de extrema direita. Uma coisa que foi benéfica a eles foi se voltar à questão das fronteiras. O fechamento e a ideia de soberania estão muito alinhadas com a extrema direita. Desacreditar qualquer instituição internacional, como fizeram com a UE, é muito útil a essa narrativa.

Esses embates entre populistas e especialistas pode ter consequências para a democracia?

Sim. Se você tem um governo que desafia a ciência, isso diz muito sobre o sistema, em primeiro lugar. Mas não sei se há consequências para a democracia ou se expõe fraquezas da democracia que já existem. Depende muito de contextos específicos, de como as instituições funcionam. Mas, ao mesmo tempo, vemos democracias mais frágeis se saindo bem na crise, e outros com democracias fortes, como o Reino Unido, passando por problemas. Isso é interessante.

Outras notícias

Missão Polaris Dawn realiza primeira caminhada espacial comercial após adiamentos

Navio bate contra ponte que colapsa e cai com vários veículos nos Estados Unidos

Itaipu leva discussão sobre gestão compartilhada da água para conferência da ONU

É possível que uma mesma crise fortaleça alguns populistas e derrube outros?

É uma boa questão. É provável. Isso vai depender de uma série de fatores estruturais que vão permitir que as pessoas facilitem ou não esse poder. Se você olhar casos como a Europa Oriental, estamos falando de um autoritarismo atenuado. Sob circunstâncias como essa, onde as instituições são frágeis, os líderes têm mais chances de usar a crise para consolidar o poder. Eu não ficaria surpresa se víssemos alguns desses autoritarismos se tornarem mais permanentes. De onde venho, há um ditado que diz: "Não há nada mais permanente que o temporário".

A proximidade das eleições pode ter algum efeito no julgamento de líderes populistas?

Afetará, mas há um longo caminho pela frente e os eleitores são imprevisíveis. Um partido ganha votos de grupos muito diferentes. Se só um segmento da população está protestando, por exemplo, não significa que o líder será derrotado.

Países comandados por diferentes tipos de líderes podem enfrentar diferentes consequências da crise?

Essa crise expôs dois imperativos em colisão: um é a capacidade de resguardar a saúde da população e outro é proteger a prosperidade econômica. Infelizmente, quanto mais tempo você permanece no lockdown, mais resguarda a sua saúde, e não a economia. O desenlace, contabilizando derrotas e vitórias, é o que determinará se as pessoas punirão ou não seus comandantes.

O populismo pode dar lugar ao autoritarismo após a crise?

A crise mostra que "populismo" não é a palavra certa. Não é que o líder muda de populista para autoritário - ele sempre foi autoritário. O que a crise tem feito é permitir que líderes acumulem poder, e justifiquem esse acúmulo. Há um modo de ditar como as pessoas devem viver suas vidas, quem pode entrar ou sair do país. Não porque eu sou um ditador, mas porque preciso enfrentar a crise. Isso não é novo. Com frequência, líderes tentam consolidar o poder usando uma crise.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Veja também

Relacionadas

Mundo
Imagem de destaque

Maior fornecedor de armas e drogas para o Comando Vermelho, é preso em bordel no Paraguai

Mundo
Josué da Cunha

Paranaense na Flórida, mostra cenário de destruição durante passagem do Furacão Ian

Mundo

Brasil tem “economia em plena recuperação”, diz Jair Bolsonaro na ONU

Mundo

Charles III é proclamado soberano do Reino Unido

Mais Lidas

Cidade
Londrina e região

Exclusivo: Motorista em marcha ré atropela idosa de 79 anos no Centro de Londrina

ELEIÇÕES 2024
Londrina e região

Tiago Amaral é eleito prefeito de Londrina com 143.745 votos neste domingo

Cidade
Londrina e região

Jovem de 26 anos morre em confronto com a PM após perseguição em Londrina

Cidade
Londrina e região

Homem de 34 anos é ejetado de carro em capotamento e morre na PR-445, em Londrina

Cidade
Londrina e região

Homem é encontrado morto em canteiro central no Jardim Bandeirantes, em Londrina

Podcasts

TURISMO

Podcast A Hora do Café - EP4 - Fernanda Corrêa da Rota do Café

A HORA DO CAFÉ

Podcast A Hora do Café - EP3 - Cris Malauz barista e empreendedora

VEJA

Podcast - Por Trás das Câmeras - EP6 - Conheça a história de Maika Martins

Tarobá © 2024 - Todos os direitos reservados.