A Argentina tem um novo presidente. Ao assumir o cargo nesta terça-feira, 10, em cerimônia no Congresso, Alberto Fernández prometeu uma reforma do sistema de Justiça e manifestou desejo de construir uma relação com o Brasil, apesar das diferenças ideológicas com o presidente Jair Bolsonaro. De acordo com ele, o país deve adotar uma diplomacia comercial "dinâmica", "inovadora" e "plural" que fortaleça o Mercosul.
Fernández, eleito em novembro ao lado de Cristina Kirchner, que agora ocupa o cargo de vice-presidente, afirma que o governo de seu antecessor, Mauricio Macri, usou o aparato judicial para perseguir opositores. Cristina foi acusada de crimes de corrupção e formação de organização criminosa em nove processos. "Precisamos de cidadania na democracia", disse Fernández. "Sem uma Justiça realmente independente do poder político, não há república nem democracia, somente um conjunto de juízes que passam a atuar para satisfazer os poderosos de turno e a castigar aqueles que o enfrentam". O presidente afirma que Cristina é "vítima de ataques arbitrários" de juízes pressionados por Macri.
Fernández anunciou que enviará ao Congresso um projeto para reformar a Justiça e evitar perseguições políticas. O presidente também disse que revogará um decreto de Macri que tornava secreto o orçamento da Agência Federal de Inteligência. "Esses fundos serão usados para financiar o plano contra a fome", disse.
Com relação ao Brasil, principal parceiro comercial da Argentina, Fernández prometeu uma "agenda ambiciosa". O País foi o único citado no trecho do discurso dedicado à política externa. "Na área de tecnologia, da produção e da estratégia, que estarão respaldadas pela histórica irmandade de nossos povos, que vai além de qualquer diferença pessoal dos que governam e da conjuntura", afirmou o presidente, em discurso acompanhado pelo vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão. "Vamos honrar e avançar juntos na construção de um futuro de progresso compartilhado. Vamos fortalecer o Mercosul e a integração regional."
Em Brasília, Bolsonaro respondeu o aceno argentino. "Estou torcendo para que a Argentina dê certo. Se bem que os números dizem que eles vão ter mais dificuldade do que nós", disse. "Não queremos brigar com ninguém, queremos fazer comércio com o mundo todo. Não queremos brigar com a Argentina."
Bolsonaro não felicitou Fernández após sua vitória eleitoral e disse que não compareceria à posse, sugerindo que o Brasil enviaria apenas um ministro ou o embaixador. Na segunda-feira, porém, ele decidiu enviar Mourão "para avaliar o relacionamento com a Argentina", segundo o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros.
A mudança de rumo, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, tem relação com a importância comercial da Argentina e foi resultado de conversas com militares, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Mercosul e América Latina
Ao prometer robustecer o Mercosul, Fernández, defendeu também o fortalecimento da América Latina em geral. Segundo ele, a Argentina buscará em seu governo conquistar novos mercados. "Não devemos nos isolar, mas fazer isso com inteligência", argumentou. Ele disse que isso será feito com base nos interesses do país, como é natural entre todas as nações. "Queremos integração plural e global."
Em um discurso mais concentrado em questões internas e na crise pela qual passa o país, Fernández ainda renovou a reivindicação da Argentina pelas Ilhas Malvinas, sob controle britânico. Ele disse que pretende usar a diplomacia para tratar da questão. "Não há mais lugar para colonialismos no século 21", afirmou. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.