Em agosto, Donald Trump disse ao então conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, que suspenderia a ajuda militar à Ucrânia até que o governo do país investigasse o democrata Joe Biden. A revelação é do próprio Bolton, que fez circular entre amigos o rascunho de um livro inacabado. Os trechos publicados pelo New York Times aumentaram a pressão contra Trump no Senado, que debate o impeachment do presidente.
A decisão de suspender a ajuda militar à Ucrânia em troca de uma investigação envolvendo um rival político é o ponto central do processo de impeachment de Trump. Biden é ex-vice-presidente dos EUA, pré-candidato democrata e maior ameaça à reeleição do presidente, em novembro - atualmente, ele lidera a maioria das pesquisas.
A defesa do presidente, que desde sábado apresenta seus argumentos, sustenta que não houve abuso de poder, já que os ucranianos não se sentiram pressionados. O caso, segundo os advogados de Trump, foi montado pelos democratas com base em testemunhas de segunda mão, pessoas que não tiveram envolvimento direto nas negociações.
As declarações de Bolton, no entanto, derrubam a tese central da defesa de Trump. Como conselheiro de Segurança Nacional, ele estava à frente da política externa americana e tem conhecimento em primeira mão de tudo o que aconteceu. Além disso, as credenciais republicanas e conservadoras de Bolton são inatacáveis, o que inviabiliza a tática da Casa Branca de rotulá-lo de "democrata" ou de "esquerdista".
Em seu livro de memórias, Bolton revela que Trump lhe disse pessoalmente que congelaria o auxílio de US$ 391 milhões aprovado pelo Congresso para a Ucrânia até que os ucranianos anunciassem uma investigações sobre Joe Biden e seu filho, Hunter Biden, que trabalhava para uma empresa de energia ucraniana quando seu pai era vice-presidente.
O New York Times não cita diretamente o rascunho, mas várias pessoas leram e ouviram o relato de Bolton. O livro é uma amostra do que o ex-conselheiro poderia dizer se fosse convocado para testemunhar no julgamento de impeachment no Senado. Sabendo do potencial destrutivo de um depoimento de funcionários ou ex-funcionários de alto escalão do governo, a Casa Branca tem feito de tudo para impedi-los de falar.
Ontem, após a publicação da reportagem do New York Times, os democratas voltaram a pressionar pela convocação de Bolton como testemunha. No entanto, o Senado, que conduz o um julgamento de Trump, é controlado pelos republicanos - dos 100 senadores, 53 são do partido do presidente.
Para destituir Trump, são necessários dois terços dos senadores. Portanto, 20 partidários do governo teriam de abandonar o presidente, o que é considerado improvável.
No entanto, para intimar alguém a depor, os democratas precisariam de maioria simples, ou seja, apenas quatro votos de senadores republicanos. Bolton já disse que está disposto a testemunhar se for intimado pelo Senado.
Em uma série de tuítes, nas primeiras horas de ontem, Trump negou o conteúdo da reportagem. "Nunca disse a John Bolton que a ajuda à Ucrânia estava ligada às investigações dos democratas, incluindo Biden. De fato, ele nunca se queixou disso no momento de sua saída do governo", escreveu Trump. "Se Bolton disse isso, foi apenas para vender um livro."
Apesar do conteúdo explosivo, analistas acreditam que é pouco provável que o livro de Bolton a altere o andamento do processo de impeachment. Ontem, os líderes do Partido Republicano voltaram a dizer que não pretendem convocar testemunhas para depor.
Em comunicado, Charles Cooper, advogado de Bolton, disse que a reportagem do New York Times era "precisa" e contou que havia submetido o manuscrito do livro ao Conselho de Segurança Nacional em 30 de dezembro - uma revisão de segurança-padrão para informações confidenciais. "Está claro, lamentavelmente, como a reportagem do New York Times mostra, que o processo de revisão de pré-publicação do livro foi corrompido e as informações foram divulgadas por pessoas que não estavam envolvidas na revisão do manuscrito", afirmou Cooper. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.