Comportamento

Habita

11 mai 2021 às 22:07

Habita-me! Preencha-me! Venha somar-me. Encher-me. Preencher-me. Sinto-me vazia. Transparente. Inodora. Insípida. Mas como? Eram tantos os caminhos. Onde foram parar? Na verdade eles nunca saíram do lugar. Continuam ali, aqui e acolá. O que acontece é que eu não andei. Não ando mais. Nem um passo. Alguns movimentos cambaleantes. Mas o eixo continua o mesmo. Estático. Como as folhas das árvores que se movimentam presas aos galhos e ao tronco. Elas farfalham, dançam suavemente. Já a minha dança já não tem tanta leveza assim. Nem música. Agora tudo é silêncio. Nem bossa, nem rock. Nem 8, nem 80. É zero. A neutralidade. Serei eu vomitada? Sinto-me mais engolida. Deglutida por sentimentos, sensações, dúvidas e anseios. Mas não tenho mais vontade de lutar. Desisti. Entreguei as armas. Lavei as mãos. O que quero? Não sei. Só sei que não quero mais reagir. Não tenho forças. Nem vontades. Alguém que o faça por mim! Eu não posso mais. Quem quiser que me pegue e leve. Escolha meu destino. Minha vida. Decida minhas alegrias e tristezas. Eleja minhas vestes. Selecione meus filmes. Delibere incondicionalmente por mim. Entrego os pontos como a noiva joga o buquê: para o alto e de costas. A diferença é a intensidade.