Política

Homem é engessado por cima da camiseta

03 mai 2018 às 11:02

Um vídeo tem rodado o Brasil desde o final do mês passado. Trata-se de um homem que teve o braço direito e o tórax engessados por cima da roupa. O procedimento foi realizado em uma unidade de saúde de Belo Horizonte no dia 26 de abril. A guarda municipal foi chamada por uma comerciante que estava indignada com o fato, mas como o homem não quis registrar um boletim de ocorrência nada pôde ser feito.

A indignação de todos que assistem o vídeo é grande, nas redes sociais os comentários são agressivos contra o profissional de saúde responsável pelo procedimento e o tão deficitário Sistema Único de Saúde não é poupado de críticas ainda mais severas do que as que costumeiramente sofre. Observando o vídeo qual a primeira reação? Provavelmente indignação.

Vamos refletir sobre isso. O que levaria um profissional de saúde engessar uma pessoa por cima da roupa? Ele não percebeu que o paciente estava de camiseta? Me parece difícil de acreditar que um profissional da saúde simplesmente não viu que estava engessando alguém por cima da camiseta.

Atirar a primeira pedra parece fácil neste caso. Como pode alguém ser engessado por cima da roupa. Erram feito, não há justificativa pra isso, bora atirar pedras. Num país com tanta injustiça social, com pessoas morrendo por falta de atendimento médico e outras coisas tão graves como, me parece ser compreensível uma reação enfurecida da população. Essa fúria por vezes é tão grande e repleta de razões, que ficamos cegos para um enorme ponto de interrogação em nossa frente. Uma dúvida que, num caso como este, deveria ser suficiente para barrar qualquer comentário mais agressivo.  Afinal, por que um profissional de saúde engessou um paciente por cima da roupa?

De acordo com a secretaria municipal de saúde de BH foi feito um procedimento de imobilização temporária porque o caso era cirúrgico e que essa cirurgia seria realizadas nas próximas horas, dependendo apenas de exames pré-operatórios. Bem, aí já podemos tirar da mente aquela ideia de que o paciente ficaria 60 dias com o gesso e automaticamente com a mesma camiseta.

Sabemos que os exames pré-operatórios precisam ser feitos em locais diferentes, ainda mais em casos que não representam risco imediato a vida. Sendo o paciente usuário do transporte coletivo eu coloco aqui a seguinte reflexão: Será que não seria mais confortável e digno pra ele ter pelo menos uma camiseta, mesmo que por baixo do gesso, para andar de um lado a outro da cidade? Veja como são as cosias, o gesso por cima da camiseta passa, de uma hora para outra, de algo indigno para digno. Sabemos que o ideal seria uma estrutura na qual o paciente não precisasse ir a vários lugares por conta própria antes da cirurgia, mas diante do que tinha naquele momento pode ser que o profissional de saúde tenha sido mais humanos do que nossa primeira impressão pode ter nos feito pensar.

Outra coisa que chama atenção nesse caso é que o paciente, além de não ter registrado BO, disse estar satisfeito com o serviço. Eu não entrevistei ele para saber se essa satisfação era por pura carência, onde qualquer coisa é tida como boa ou se de fato teve um motivo específico para ser engessado por cima da camiseta.

De qualquer maneira a secretaria de saúde abriu processo administrativo para apuração do caso. O homem já foi operado.