Montador premiado de "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite", Daniel Rezende faz sua estreia na direção de longas com "Bingo – O Rei das Manhãs". O filme começou Wagner Moura como protagonista, mas, devido a compromissos de sua agenda internacional, teve de abandonar o projeto e indicou seu amigo Vladimir Brichta. “De uma hora para outra, fiquei sem ator e aí me encontrei com o Vladimir. Olhei nos olhos dele, e vi tamanha ansiedade, tamanha vontade que relaxei. Tinha o meu Augusto" conta o diretor.
O nome é importante. Augusto é o tipo de palhaço mais conhecido no Brasil. É extravagante, pícaro, mentiroso, provocador. Representa o mundo infantil. Anarquia e liberdade. Por uma questão de direito autoral, a cinebiografias de Bozo trocou de nome. Virou Bingo. Mais que isso – Arlindo Barreto era Bingo. Virou Augusto. “Queria descolar o meu personagem dele. O Arlindo fez sua viagem na realidade. Foi fundo nas drogas e no sexo. Salvou-o a religião. Virou evangélico. Com todo o respeito, não era o que me interessava. O que pode salvar Augusto no meu filme é o seu desejo, a sua necessidade de um palco. Não importa que palco é esse – teatro, filme pornô, palco de TV, púlpito de um templo evangélico. Ele necessita dessa luz".
O diretor só tem elogios para seu ator. “Vladimir foi de uma entrega absoluta. Deu um salto sem rede". Rezende ainda destaca a contribuição da foto, da direção de arte, da montagem. “Estudei muito a pornochanchada e nossa cultura brega dos anos 1980. Queria que o filme fosse atemporal, e a arte tem coisas até dos 1960. Mas esse mergulho nos 1980/90 é muito forte. Está no meu imaginário como no do público. Espero que as pessoas o reencontrem como uma releitura crítica", finaliza.
Fonte: Correio do Povo/Estadão Conteúdo