Quando a Geada Negra de 1975 atingiu o Paraná, a lavoura de café, apesar da importância histórica, já não era a maior do estado em termos de território. Dados do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) indicam que as pastagens vinham ganhando espaço com a criação de gado. Além disso, ano após ano, culturas como milho e soja expandiam-se, demonstrando uma diversificação agrícola em curso.
A historiadora Caroline Oliveira Costa explica que essa diversificação estava ligada a incentivos governamentais para a substituição do café, em uma tentativa de modernizar e controlar o mercado agrícola.
O Edifício América: símbolo de resiliência do café
Mesmo com a decadência do café, o Edifício América, no centro de Londrina, permaneceu como uma referência na compra e venda de sacas de café e continua ativo até hoje. No local, encontramos Geraldo Ferreira, que atuou como provador e corretor de café por toda a vida e sempre trabalhou no prédio, um símbolo do sucesso do chamado "Ouro Verde".
Geraldo Ferreira de Souza relembra a garantia do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que comprava excedentes e os armazenava em estoques. Ele também menciona os números da produção, destacando a primeira colheita de 1978, logo após a geada. "Ainda dava para ver o gelo nas plantas no dia 17, antes do dia 18, o dia da desgraça. Foi uma sensação terrível. Tinha cheiro de folha queimada no ar e estalactites formadas nas árvores. A geada negra não foi a única causa para a drástica queda na produção cafeeira no Paraná, já havia um movimento de diversificação."
Apesar da geada ter levado muitos produtores a desistir do café e até da agricultura, provocando um êxodo rural, não foi a única causa para a queda drástica na produção cafeeira no Paraná. A produção cafeeira, mesmo com a geada, teve uma retomada e seguiu forte até a década de 1990.
Apesar da decadência do café, o Edifício América ainda abriga diversos escritórios de corretagem que lidam com a compra e venda da produção cafeeira. Hoje, Geraldo Ferreira de Souza trabalha com a corretagem, vendendo cafés de outros estados.
Cicatrizes e fé: a memória dos cafeicultores
Para além dos números de produção e das razões pelas quais o café entrou em decadência na década de 1970, existem as cicatrizes que aquele 18 de julho deixou na memória de quem produzia o "Ouro Verde" na época.
Luiz Cavalieri, produtor rural, relembra a expectativa da safra antes da geada e a tragédia que se seguiu. A esposa dele, Maria Cleide, declarou que a única coisa que fez a família seguir firme naquele momento de dificuldade foi a fé. "A fé foi a única coisa que nos segurou", relata Maria Cleide.
A família Cavalieri foi uma das que resistiu e insistiu na produção de café, trabalhando em Mirasselva até cinco anos atrás. No entanto, a desistência recente não foi motivada pela geada.
No próximo episódio, a série abordará os rumos que o agronegócio tomou no Paraná após a Geada Negra, que, apesar de trágica, não decretou o fim de nada, mas sim o início de uma nova fase para a produção agrícola do estado.