Pesquisadores de nove países, incluindo a brasileira Daniela Bittencourt, da Embrapa, publicaram um estudo na revista Science sobre os riscos do desenvolvimento de bactérias-espelho – organismos sintéticos cujas moléculas são invertidas.
O artigo alerta para os perigos potenciais dessas bactérias para a saúde humana, animal e ambiental, sugerindo que, se criadas, elas poderiam escapar das defesas imunológicas, já que as estruturas moleculares seriam reconhecidas de forma inadequada pelo sistema imunológico.
Embora a ameaça não seja iminente, os autores enfatizam a necessidade de um debate global para entender e mitigar os riscos. As bactérias-espelho poderiam se disseminar por ecossistemas através de animais e humanos, expondo diferentes populações a infecções.
O estudo, acompanhado por um relatório técnico de 300 páginas, também sugere que esses organismos poderiam resistir a predadores naturais, permitindo a proliferação em diversos ambientes.
A pesquisadora Daniela Bittencourt, única cientista latino-americana no estudo, destaca a importância de um avanço ético e seguro na biotecnologia.
Ela reconhece que as bactérias-espelho poderiam oferecer avanços, como novos materiais e medicamentos, mas afirma que essas inovações podem ser alcançadas sem os riscos de criar tais organismos. O artigo pede colaboração entre cientistas, políticas públicas e reguladores para um progresso responsável, equilibrando inovação e precaução.
“Apesar dessas possibilidades, as bactérias-espelho apresentam riscos significativos, conforme destacado no artigo. A preocupação com esses riscos é ainda mais relevante devido aos recentes avanços nas metodologias da biologia sintética, que tornaram a criação de tais organismos mais viável.
Portanto, é crucial que haja uma colaboração estreita entre cientistas, formuladores de políticas e reguladores para garantir um avanço responsável da biotecnologia, equilibrando inovação com a devida precaução”, assinala a pesquisadora.
O debate sobre os riscos das bactérias-espelho deverá continuar em eventos planejados para 2025, incluindo encontros no Instituto Pasteur, na França, na Universidade de Manchester e na Universidade Nacional de Singapura.