Os maiores frigoríficos brasileiros já deixaram de abastecer as empresas do Carrefour no Brasil na noite desta sexta-feira (22), em retaliação às declarações do CEO do grupo na França, Alexandre Bompard. A interrupção vale para as lojas da rede Carrefour, Atacadão e Sam’s Club, em torno de 1200 lojas, e devem ser intensificadas nos próximos dias, incluindo um possível bloqueio de vendas de carne de frango.
Nesta semana, Bompard anunciou que as lojas do Carrefour na França não iriam mais vender carnes [e outros produtos] produzidos nos países do Mercosul, como um ato de solidariedade aos agricultores franceses, que protestam contra o acordo comercial entre a União Europeia e Mercosul desde o começo da semana. Em sua declaração, o CEO reforçou que apenas as lojas da França não iriam mais comercializar os itens.
As declarações geraram uma série de manifestações das instituições que representam o agronegócio brasileiro, sobretudo às representações da agroindústria frigorífica como a Abiec (Associação das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina) e a ABPA, que representa as agroindústrias de carnes de frango, suína e ovos. O ministro da agricultura e pecuária, Carlos Fávaro, também se manifestou e rechaçou a declaração de Bompard. Fávaro havia declarado que o Brasil deveria defender sua soberania nessa questão comercial.
Na quarta-feira (21), o Carrefour Brasil informou que as declarações do CEO não se aplicavam às lojas do Brasil, mas as instituições do setor afirmaram, em nota, que “entende que, se o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês, que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano, [as entidades] consideram que, se [o Brasil] não serve para abastecer o Carrefour francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”. Neste sábado (23), o Carrefour Brasil afirmou que não há desabastecimento de carne bovina em suas lojas.
Na sexta-feira (22), o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion, defendeu que o setor de proteínas pare de fornecer carnes ao Carrefour e demais marcas do grupo no Brasil. “Se a carne brasileira serve para ser consumida nas lojas do Carrefour e de todas suas outras empresas aqui no Brasil, ela serve também para a Europa. Sugiro, e já conversei com as entidades produtores de proteína, que parem de entregar seus produtos para o Carrefour e demais marcas dessa empresa aqui no Brasil, para que eles entendam o que é respeitar o produtor rural brasileiro”, disse.
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, também incentivou um boicote. "Ele (Carrefour) tem direito de comprar de quem ele quer para mandar produto lá para a França, mas nós brasileiros também temos o direito de comprar de quem quisermos. Então, se o Brasil não serve para vender carne para eles, então eles não servem para vender produtos franceses e essa empresa não deveria ser bem vista aqui no nosso País" .
As associações que representam os setores exportadores de carnes e o governo brasileiro aguardam uma retratação do executivo Alexandre Bompard para restabelecer as entregas de carnes nas lojas do grupo no Brasil.