A savana mais biodiversa do planeta, o Cerrado, já perdeu 47,9% da vegetação nativa, segundo o Mapbiomas, pressionado principalmente pela expansão agropecuária, que cresceu 74% entre 1985 e 2024. Quase metade do Cerrado remanescente (47,8%) está no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde se concentram as maiores taxas de desmatamento e a expansão da fronteira agrícola.
Pesquisadores da UFPA, como Danilo Araújo Fernandes e Gilberto de Souza Marques, defendem que o agronegócio deve ser entendido como o conjunto de grandes conglomerados econômicos e complexos financeiros, com forte apoio do Estado. O setor representa até 25% do PIB nacional, considerando seus efeitos em transporte, insumos e agroindústria, e foi o principal impulsionador do crescimento econômico de 2025.
Apesar da relevância, economistas alertam que o agronegócio empresarial apresenta baixo potencial de geração de empregos e altos custos ambientais, exigindo políticas públicas voltadas à sustentabilidade e à agricultura familiar.
Enquanto empresários defendem que o setor é motor de desenvolvimento regional, críticos alertam para a concentração fundiária, o impacto hídrico e a dependência de multinacionais que controlam até 80% do mercado global de grãos.
O governo federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), busca parcerias com o agro para estimular práticas mais sustentáveis, como o projeto Ecoinvest, que destina R$ 30 bilhões à recuperação de pastagens degradadas e à criação das Áreas Prioritárias para Conservação de Águas do Cerrado (APCACs).
A reportagem integra a série especial “Fronteira Cerrado”, da Agência Brasil, que investiga os efeitos do avanço do agro sobre os recursos hídricos nacionais.