Pesquisadores de empresas privadas e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) afirmam que mais da metade dos canaviais que sofreram com as temperaturas extremas causadas pelas mudanças climáticas e com as queimadas, ocorridas entre os meses de agosto e outubro deste ano, não devem ser recuperados.
Após uma estiagem severa e queimadas intensas, retorno das chuvas trouxe um novo desafio ao setor sucroenergético: avaliar a germinação das soqueiras nos canaviais do início da safra. Ou seja, o setor tenta entender como recuperar o solo para que as plantas se desenvolvam e que a colheita seja produtiva.
Pesquisadores da Massari Fértil, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), estão estudando as principais causas dos incêndios e as soluções para a perda da eficiência do solo e a necessidade de reposição de nutrientes.
“A seca foi tão intensa que canaviais novos, de 2º,
3º e 4º cortes, simplesmente não brotaram. Estimamos que teremos uma área
representativa de canaviais com mais de 50% de falhas de brotação, não sendo
viáveis economicamente o replantio e tratos culturais. Em resumo, perda do
canavial”, avalia Cláudio Monteiro, químico da Massari.
Em nota técnica, os pesquisadores destacam que a restauração do solo se apresenta como um dos maiores desafios para o setor, pois a palha que recobria as plantas virou cinza, eliminando parte dos nutrientes do solo.
Uma das soluções para mitigar os prejuízos é priorizar o plantio de cana sobre cana, utilizando o sistema MEIOSI fase 1 (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente), com início em novembro de 2024 e projeção até abril de 2025.
No entanto, ele ressalta que o preparo do solo sob chuvas intensas pode causar erosão, exigindo práticas mais sustentáveis, como o preparo reduzido e a aplicação de corretivos micronizados.
“Esses produtos são aplicados diretamente na
superfície e utilizam as chuvas para alcançar e corrigir o perfil completo do
solo”, explica Monteiro.
Desde 1980, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) acompanha as temperaturas diárias e detectou um aumento significativo, de mais de 1ºC, nas temperaturas máximas e mínimas ao longo das últimas décadas.
“Esse cenário é preocupante, pois limita o desenvolvimento
das culturas e, consequentemente, a produtividade”, alerta Monteiro.
Diante destas mudanças climáticas, o especialista defende que a análise do solo se torna indispensável e deve ser realizada, pelo menos, uma vez por ano para garantir propriedades físicas e químicas adequadas.
“Precisamos mudar a forma como tratamos a questão da
correção e nutrição do solo. O que era feito há cinco anos, com as mudanças no
clima, já não oferece o mesmo resultado. É preciso conhecer a fundo o tipo do
solo e as necessidades do mesmo para não ter perdas tanto no cultivo, quanto
financeiras”, finaliza o químico.