Agro

Óleo de alecrim-do-mato pode combater pragas agrícolas

21 dez 2023 às 09:45

Uma pesquisa liderada por cientistas da Embrapa Semiárido (PE) mostra que o óleo essencial extraído do alecrim-do-mato, uma espécie nativa da Caatinga, tem alto potencial comercial para produzir defensivos agrícolas biológicos. A pesquisa indica altos níveis de timol e carvacrol, compostos reconhecidos por sua ação antimicrobiana de importância agrícola, nas folhas da planta. 


As análises mostraram que o óleo essencial do alecrim-do-mato tem eficácia no controle de fungos e bactérias que são responsáveis por causar doenças em diversas culturas, explica a pesquisadora Ana Valéria de Souza, que coordena os estudos de domesticação da planta e sua viabilização comercial.


Segundo ela, entre os microrganismos passíveis de serem controlados estão o Colletotrichum gloeosporioides, C. musae, C. fructicola, C. asianum, Alternaria alternata, A. brassicicola, Fusarium solani, F. oxysporum f. sp. Cubense, Lasiodiplodia theobromae, Thielaviopsis paradoxa, entre outros.


Além do seu potencial agrícola, o óleo essencial também indica qu pode ser usado na saúde animal, como no controle de mastite. “Os trabalhos apontam eficácia no tratamento da mastite, uma doença muito relevante para a produção animal e é causada por estafilococos”, explica Souza.



Pomar de manga


Na Embrapa, os estudos estão sendo realizados na pós-colheita da manga, fruta de grande importância socioeconômica para o país. De acordo com o cientista Douglas de Britto, o objetivo é explorar as propriedades antifúngicas do óleo essencial de alecrim-do-mato, aplicando-o em um revestimento para manter a qualidade da fruta e prolongar seu tempo de prateleira.


O pesquisador explica, porém, que é necessário o encapsulamento do óleo em nanopartículas devido à sua alta volatilidade, ou seja, a facilidade com que a substância passa do estado líquido para o gasoso. “Temos que usar técnicas de nanoencapsulamento para que ele fique mais preso, mais fixo a esse revestimento e possa realmente ser efetivo para o objetivo que queremos”, relata.


Segundo o pesquisador, já foram feitos testes in vitro para controle de microrganismos e também avaliações in vivo, aplicando o revestimento nas mangas, e realizando o acompanhamento em câmara fria quanto à evolução da fisiologia da planta, velocidade de amadurecimento e incidência de fungos.


O trabalho integra os esforços da Embrapa para identificar ativos que prolonguem a vida útil pós-colheita de frutas, com o uso de revestimentos biodegradáveis que sejam seguros ao ser humano e ao meio ambiente. “Nós temos vários tipos de compostos químicos que são utilizados para controlar os fungos, mas muitas vezes esses produtos podem levar à resistência microbiana. Quando utilizamos um produto natural, como o óleo essencial do alecrim-do-mato, temos algo mais efetivo, que pode ser ingerido pelos seres humanos de forma segura e que também contribui para a redução do aparecimento de cepas resistentes”, destaca Britto.


Estão sendo aprimoradas formulações e estratégias para potencializar a efetividade desse óleo na fase de pós-colheita. “Os estudos encontram-se na etapa laboratorial e o próximo passo será a avaliação desse revestimento em escala piloto nas instalações de processamento de manga”, declara o cientista ao informar que, além da cultura da manga, os pesquisadores pretendem testar o óleo em outras frutas de interesse comercial, como a uva.


Ele destaca ainda a importância do bioma Caatinga como fonte de novas moléculas de interesse comercial. “A Caatinga tem uma biodiversidade rica e ainda pouco explorada. Esperamos que esse trabalho possa também ampliar a percepção do grande potencial bioeconômico desse bioma”, finaliza.