Brasil

Presídio de Mossoró ficou mais de dois anos sem manutenção

23 mar 2024 às 13:06

Vídeos gravados dentro da Penitenciária Federal de Mossoró revelam que o local ficou mais de dois anos sem manutenção. As imagens mostram uma discussão entre detentos e funcionários sobre os problemas estruturais do presídio. Foi de lá que dois presos conseguiram escapar no mês passado. Passado um mês, até agora não foram recapturados. 


Um preso algemado é levado à força por policiais penais para o pátio da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.


O detento é Nilton Cezar Antunes Verón, acusado de planejar a morte de um juiz federal no Mato Grosso do Sul. Ele acabou ferido no rosto.


No pátio, Verón foi colocado ao lado de outros detentos. Entre eles, o então número dois do PCC, Roberto Soriano, o "Tiriça".


O grupo foi repreendido por provocar desordem no presídio de segurança máxima. A revolta dos presos era com punições e com a exigência de caminharem sempre com o queixo colocado no peito. 


Tiriça discute com um policial penal.


- “Cruza as pernas, interno. A postura é perna cruzada. Está escutando, interno? Soriano, cruza a perna. Se levantar vai ser neutralizado. Meu parceiro ali está todo machucado. ele está sangrando ali, rapaz.”


Os presos passam a reclamar das condições da penitenciária. Quem fala em outro trecho é Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, apontado como chefe do tráfico na favela de Paraisópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo.


- “Não funcionava luz. Tudo no escuro desde quarta-feira. Aí, ontem, foi mudou "eu". Agora com a cela sem água. 


Todos sabiam que a conversa estava sendo gravada. Tiriça se manifesta.


- “Estavam gravando aí. demorou para gravar, a gente está certo. Grava o seu rosto aí, todo machucado. Mostra pro câmera.


As gravações obtidas com exclusividade pelo Jornal da Band são de abril de 2015. Mesmo com todo o rigor da penitenciária, dois presos ligados ao Comando Vermelho conseguiram escapar no dia 14 de fevereiro.


Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento seguem foragidos e são procurados por centenas de agentes, helicópteros, drones e cães farejadores. Até agora, a investigação não encontrou indícios de que houve facilitação nessa fuga, que é a primeira em uma unidade prisional federal. 


O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, chegou a apontar problemas estruturais e na segurança da cadeia.


“Houve uma fuga pela luminária da cela. Eles entraram no shaft, local onde se faz manutenção do presidio. De lá conseguiram alcançar o teto. Não havia nenhuma laje, grade, nenhum sistema de proteção.


Com os vídeos é possível constatar que essas falhas já haviam sido detectadas no passado. O próprio diretor geral da penitenciária de Mossoró na época reconheceu na conversa com os presidiários que já fazia dois anos que a unidade estava sem manutenção.


- “Estamos há mais de 800 dias sem manutenção predial. Mas, eu não posso ser responsabilizado ou sofrer o ônus se o sistema federal não está tendo manutenção”.


O diretor diz que a própria sala estava com problema de iluminação.


- “Não tem só você sem energia, não. Tem 11 sem luz. E aí? O que a gente vai fazer? Na minha cela tem luz queimada. Não é certo você ficar sem luz, mas não tem o que fazer. 


Depois desse episódio, os presos foram isolados. De lá pra cá, três funcionários do sistema prisional federal foram assassinados. Tiriça foi transferido para outro presídio de segurança máxima e virou o pivô de uma briga interna no PCC. Hoje, ele é considerado desafeto de Marcola, que segue como número um da facção criminosa.