Apesar da desaleração da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar pela 7ª vez consecutiva a Selic no país, com um aumento de 0,25%. Agora, a taxa básica de juros chega a 15%, o maior valor em quase 20 anos.
O órgão justificou que o ambiente externo segue adverso e incerto, “em função da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca das políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos”.
Em comunicado, o BC também afirmou que o cenário doméstico ainda apresenta dinamismo em relação à atividade econômica, apesar de existir uma “certa moderação” no crescimento. O órgão também afirmou que os riscos para a inflação seguem mais elevados do que o usual.
Ao mesmo tempo, o BC destacou que caso o cenário econômico siga dentro do espero, espera-se que haverá uma interrupção na alta de juros na próximo reunião do Copom.
Desde setembro, o BC já aumentou a Selic em 4,50%. Com isso, a taxa básica de juros está em seu maior nível desde julho de 2006, no primeiro governo Lula, quando o índice chegou a 15,25%.
No comunicado, o Copom anunciou que antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para as próximas reuniões, mas garante que não hesitará em mudar de ideia e continuar com o aperto monetário na decisão na reunião de julho caso avalie que seja necessário por mudanças de cenários.
Inflação
A queda da inflação aumentou as chances de interrupção no ciclo de altas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,26% em maio e para 5,32% em 12 meses.
Segundo o último boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo BC, a estimativa de inflação para 2025 caiu para 5,25%, contra 5,5% há quatro semanas. Isso representa inflação acima do teto da meta contínua estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% para este ano, podendo chegar a 4,5% por causa do intervalo de tolerância de 1,5 ponto.
Taxa Selic
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, pretende conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Ao reduzir a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
Meta contínua
Pelo novo sistema de meta contínua em vigor desde janeiro, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
No modelo de meta contínua, a meta passa ser apurada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em maio de 2025, a inflação desde junho de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em junho, o procedimento se repete, com apuração a partir de julho de 2024. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrita ao índice fechado de dezembro de cada ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2025 em 5,1% , mas a estimativa pode ser revista, dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.