O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta
terça-feira (25) que a luta pela implementação da reforma tributária ainda vai
se desenrolar até 2032, em especial para combater os lobbies para excluir da
reforma diferentes setores.
Durante evento na Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, o ministro disse considerar
como único defeito da reforma, a ampliar as exceções para pagamento de
impostos.
“Se pudesse colocar um defeito nesta reforma —
diante do caos que estamos vivendo, é até pecado dizer que é defeito — é a
gente ampliar as exceções, porque isso faz com que a alíquota padrão vá se
distanciando dos 21 22% de alíquota média”, afirmou. “Então, a luta não acabou.
Do meu ponto de vista, o recado que a gente tem que ter aqui é que assim, luta
não acabou. Nós temos uma reforma, a melhor possível em regime democrático”,
acrescentou.
Haddad disse acreditar que isso poderá ser
reavaliado ao final do prazo de transição em 2032. Aos empresários, o ministro
afirmou que essas exceções levam a um aumento da alíquota média Imposto sobre
Valor Agregado (IVA), o novo tributo que substituirá os impostos e
contribuições que vigoram atualmente..
Além de prever a isenção tributária para produtos
da cesta básica, a devolução de impostos para famílias de baixa renda, chamada
de cashback, o texto da lei complementar definiu, entre outros pontos, a
inclusão de novos setores com redução da alíquota em 60% e também definiu 18
atividades por profissionais liberais que terão alíquota reduzida em 30%.
Com inclusão de exceções para setores da economia e
produtos, a alíquota-padrão do IVA subiu para 27,84%, segundo cálculos
preliminares. Isso porque alíquotas menores para um segmento significa alíquota
maior sobre os demais produtos.
A lei complementar da reforma foi sancionada em
janeiro. Ela institui um teto de 26,5% para a alíquota-padrão. Em 2031, uma
avaliação estimará se as alíquotas finais do IVA, que entrarão em vigor em
2033, serão maiores que 26,5%. Caso positivo, o governo enviará um projeto para
reduzir as exceções a setores e produtos, que precisará ser aprovado até o fim
de 2032, para reequilibrar a alíquota-padrão em 26,5% em 2033.
Reforma tributária trará avanços no médio
prazo, diz Haddad
Gatilhos tributários
A partir de 2033, haverá gatilhos automáticos para
reduzir a carga tributária a cada vez que a taxa de referência ultrapassar
26,5%.
“É uma transição que vai exigir tenacidade do
progresso nacional de resistir aos lobbies que vão surgir daqui até 2032 para
tentar ampliar ao invés de diminuir as excepcionalidades que fazem com que a
alíquota máxima se distancie da alíquota média”, defendeu Haddad. “Nós vamos
ter que batalhar muito para essa reforma se concluir, a transição se concluir e
até 2032 nós podemos sim reavaliar as exceções e diminuir o número delas para
que a alíquota padrão se aproxime da alíquota média”, concluiu.
Jet Ski
Haddad também criticou o governo anterior,
afirmando que a única contribuição de Jair Bolsonaro para reforma tributária
foi reduzir o imposto de importação sobre jet ski. O ministro lembrou ainda que
Bolsonaro chegou a se reunir com parlamentares do PL, seu partido, no Congresso
Nacional, onde defendeu o voto contrário à aprovação da reforma.
“A única iniciativa do governo anterior em relação
à reforma, não foi uma medida de pouca importância, uma medida de grande
importância que dialogou com toda a população brasileira, foi a redução do
imposto sobre o jet ski. Isso, sim, foi a grande legado do governo anterior em
relação à reforma tributária”, disse. “Vamos nos lembrar que o ex-presidente da
República esteve no Senado Federal mudando o voto para prejudicar a indústria
brasileira, lembrou.
Durante o evento, Haddad classificou a reforma
tributária como uma das três frentes mais importantes pela modernização do
Brasil. As outras duas frentes, para o titular da Fazenda, são as áreas de
crédito e infraestrutura.
"Nós temos um problema do sistema de crédito
no Brasil, o que inclui a rolagem da dívida pública e o seu sistema de rolagem,
os juros que nós pagamos no Brasil para rolar a nossa dívida, e um outro
problema de infraestrutura que é voltar a perseguir a melhoria da nossa
qualidade de educação.", afirmou Haddad.
Em relação ao crédito, o ministro citou medidas
aprovadas e implementadas em sua gestão, como o empréstimo consignado privado,
a trava no rotativo do crédito, o Desenrola e o marco de garantias.
“O crédito consignado que entrou no ar na
sexta-feira, permitindo ao trabalhador da ativa os mesmos benefícios dos
aposentados e servidores públicos; a trava no rotativo do cartão de crédito,
que chegava a 400% no Brasil; o desenrola, o marco de garantias que permitiu a
indústria vender 14% mais de veículos, 16% mais de televisores, linha branca,
tudo o que aconteceu no Brasil ano passado e que tem no marco de garantia um
dos seus pilares, tudo isso tem que funcionar cada vez melhor”, afirmou.
Na avaliação do ministro, o país precisa voltar a
olhar para a indústria com maior seriedade e que a reforma tributária pode dar
uma grande sustentabilidade por uma agenda de reindustrialização do país.
“Mas há uma nova indústria, uma indústria verde,
uma indústria que abre oportunidades, uma indústria que exporta, além de
atender o mercado interno, uma indústria eficiente, com capacidade de concorrer
com os players globais”, disse.