O conceito de produção limpa e com reaproveitamento de resíduos vem para atender a necessidade de redução do impacto ambiental provocado pela indústria têxtil. O alerta é traduzido em números, como os da Organização das Nações Unidas (Onu). Um levantamento da organização indica que o Brasil produz aproximadamente 170 mil toneladas de sobras têxteis por ano.
Deste total, apenas 15% é reaproveitado. Um tecido de algodão, por exemplo, pode levar até 20 anos para se decompor na natureza. Com uso de técnicas sustentáveis, ele pode ganhar um destino muito melhor. É o que propõe alternativas como o Upcycling. A técnica surge como uma tendência criativa, econômica e ainda reduz a produção de novos tecidos. Com o conceito de ressignificação, é voltada para materiais que não são mais utilizados ou descartados.
Os retalhos tomam nova forma e se transformam em peças únicas. “A ideia é desconstruir as roupas e dar um novo formato. A proposta é de um novo olhar para as peças e nenhuma será igual à outra”, explica a professora do curso de Design de Moda do Senac Canoas, Gerluza Tagliaro. O Upcycling é praticado nas aulas com uma turma que já planeja utilizar o conhecimento para construções de moda, também fora da sala de aula. “Gostei muito desta técnica, porque é possível desmanchar uma calça que não teria mais uso, por exemplo, e transformar em uma nova ou dar vida a outra peça”, conta a estudante Júlia de Carli, de 18 anos. Impacto ambiental O destino correto dos tecidos, proposto pelo Upcycling, é uma das formas de evitar o impacto ambiental provocado pela produção de corantes, tecidos ou mesmo o processamento deles.
A avaliação é do professor do curso de Engenharia Ambiental do La Salle. A Indústria do couro é uma das que tem grande impacto ambiental pela dificuldade processamento, até chegar ao curtimento final, de acordo com Saulo Chielle (foto. “A região do Vale dos Sinos e impactada pelo efluente industrial que sai do couro e o Rio dos Sinos sofre com isso, com lançamento de produtos químicos baseados em cromo, extremamente tóxicos”, alerta.
Metodologias para maior eficiência do consumo de água, uso de corantes de origem renovável, técnicas de curtimento mais limpas e menor processamento de materiais são algumas das medidas necessárias, conforme Chielle. “Também é preciso tornar as cadeias mais próximas, entre produção e entrega, para reduzir o impacto logístico”, acrescenta o professor, que defende maior fiscalização aos ateliês que não seguem as normas de fabricação. Consumidor consciente As práticas voltadas para sustentabilidade costumam exigir maiores investimentos desta indústria, como explica Chielle.
Mas a interpretação destes valores precisa ser assimilada como compromisso para quem produz. “A sociedade tem que entender que a questão ambiental é custo de processo a ser pago”, ressalta. Esta consciência tem que ser despertada por quem fabrica, mas também por quem consome os produtos, segundo a professora de Design de Moda da Ulbra, Marjorie Gubert (foto). “O consumidor precisa ser consciente da importância da reciclagem, lavagem correta e descarte adequado das peças”, resume Marjorie e salienta que a crescente produção vai custar um preço muito alto para o planeta e para saúde das pessoas. Saiba mais A moda sustentável é aquela que, em todas as suas etapas, preza pelo respeito ao meio ambiente e à sociedade, valorizando as pessoas envolvidas na produção e incentivando o consumo consciente.
O conceito de sustentabilidade aplicado à moda propõe produção mais humanizada, sem a exploração da mão de obra, com remuneração mais justa. Além de produzir peças cujo design e funcionalidade favoreçam o uso duradouro. Principais nichos são: produção com fibras naturais (algodão orgânico, linho, lã, cânhamo) ou com tecidos alternativos, como os feitos com garrafa pet ou de fibra de bambu. Exemplos: Reaproveitamento de rejeitos de tecidos, couro ou materiais sintéticos descartados pela indústria. Ecojoias e biojoias, acessórios produzidos com matérias-primas recicladas ou naturais.
Ecobags, bolsas confeccionadas com materiais sustentáveis. Para produzir apenas uma camiseta, são gastos 2.700 litros de água. Já em uma calça jeans são utilizados 10 mil litros de água. A indústria têxtil é uma das principais poluidoras do ar, terra e oceanos. O tingimento de tecidos causa a poluição de 17% a 20% das águas do planeta. A indústria da moda também é uma das principais responsáveis pela existência de trabalho escravo no mundo até hoje. Um dos princípios da sustentabilidade é consumir o que foi produzido localmente. Este incentivo a produtores locais ainda faz parte da geração de renda para comunidades.
Fonte: World Wild Life (WWF) e Sebrae
