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O mistério do Mirassol: chefão da sensação do Brasileirão evita holofotes; conheça

13 set 2025 às 13:43

Quem é o principal responsável pelo sucesso do Mirassol no Brasileirão? O executivo Paulinho? O treinador Rafael Guanaes? Os jogadores? Nada disso. O mentor do time é Junior Antunes, o Juninho, vice-presidente do clube. Ele é o “chefão” que encaixou todas peças e levou o Mirassol ao 6º lugar da Série A até agora. Mas existe um mistério: Juninho se recusa a dar entrevistas e quase não aparece em eventos públicos. Por quê?

É um perfil raro no futebol: mesmo diante de tanto destaque do Mirassol, ele prefere agir nos bastidores e não receber qualquer reconhecimento público. Normalmente acontece o contrário no futebol: os dirigentes querem aparecer até quando não possuem tanto mérito.


O Band.com.br tentou falar com Juninho. Como esperado, ele recusou. Segundo pessoas próximas, não é uma questão de timidez, mas de discrição. Ele gosta de ver aos elogios ao Mirassol, mas não quer chamar atenção para si.


Com isso, para entender mais sobre Juninho, é necessário falar com pessoas que o conhecem. Assim dá para entender o relacionamento de Juninho com jogadores, técnicos, funcionários, parentes e até com o presidente do time, Edson Ermenegildo.


Como Juninho virou o “chefão” do Mirassol

Tudo começou com o avô de Juninho, Alfredo Antunes. Mas envolve uma história triste: ele morreu assistindo a um jogo do Mirassol. Alfredo tinha recomendações médicas de não ir para o estádio, por causa de problemas cardíacos. Mesmo assim ele foi e, após um gol do Mirassol, morreu por infarto, na arquibancada.


O pai de Juninho, Alcebíades Antunes, se afastou do futebol por causa disso. Ele até torcia para o clube de longe, mas foi para outro ramo. Virou empresário e desenvolveu um supermercado importante para a cidade, Rede Sol. Atualmente existe uma homenagem para o pai de Juninho em Mirassol: o Viaduto Alcebíades Antunes.


A família se reaproximou do futebol quando Alcebíades Antunes Junior resolveu ser jogador de futebol, na década de 80. Juninho virou atleta profissional no Mirassol, mas logo desistiu da atividade. Passou a trabalhar no supermercado da família, que cresceu demais - atualmente são 18 unidades em 13 cidades. Assim ganhou experiência na administração.


Juninho só voltou a se dedicar ao futebol nos anos 90. Virou diretor de futebol inicialmente e ajudou em outras funções, por causa da experiência em gestão. Mas nunca foi remunerado, segundo Edson, que reconhece a importância do vice.

''Hoje ele é meu braço direito e meu braço esquerdo no Mirassol. É um exemplo a ser seguido na gestão do futebol, porque é movido pela paixão''


Atualmente Edson é prefeito da cidade, então permite que Juninho comande grande parte das funções no clube. Enquanto isso, os supermercados da família são geridos principalmente pelos filhos de Juninho, Gustavo e Rodolfo.


Juninho e os jogadores

Como diretor de futebol, Juninho sempre participou da contratação de jogadores e da gestão de elenco. O meia Camilo, que fez 3 temporadas no Mirassol, elogia a presença de Juninho em cada detalhe do clube: “O Juninho sabe como todas coisas funcionam no clube. Ele sabe de cada parafuso das portas do CT e do estádio”


Mas Camilo diz que Juninho não interfere nos treinos: “No vestiário só interferia em algo pontual, quando necessário, em reuniões. Você não via ele dando pitaco em treino. Mas acompanhava tudo nos jogos e nas viagens”.


A primeira temporada de Camilo no Mirassol foi em 2013. Tudo era muito diferente. Não havia CT moderno, então muitos treinos eram no estádio. Mas os salários sempre foram pagos em dia, segundo o jogador. Depois, em 2020, Camilo voltou ao Mirassol. Jogou na Série D e já sentiu que Juninho sonhava mais alto.


Deu tudo certo: o Mirassol está na Série A justamente no ano do centenário. Mas o começo da temporada de 2025 não foi fácil, inclusive na gestão de jogadores. O lateral Zeca e o atacante Iury Castilo reclamaram publicamente de algumas decisões da diretoria. Ambos saíram para o Coritiba.


Camilo disse que já viu momentos em que Juninho apoiou jogadores em momentos de dificuldade: “Eu presenciei algo de um atleta, que o clube foi muito parceiro. Tentaram recuperar o ser humano para que ele pudesse estar alinhado com todos nós. Foi um caso bastante conhecido no Brasil, uma questão de família que repercutiu. Mas o clube foi muito parceiro e acolheu o ser humano”.


Juninho e os técnicos

Nos últimos 15 anos, o Mirassol adotou uma postura diferente da maioria dos clubes em relação aos treinadores: apostou na continuidade e praticamente não demitiu técnicos. Quase todos que saíram cumpriram contrato até o final ou receberam propostas de outros clubes. Isso mudou com Eduardo Barroca, demitido no começo deste ano. 


Mas Moisés Egert, técnico que comandou o Mirassol entre 2016 e 2019, entende que a ideia de manter os técnicos foi fundamental para o clube escalar divisões: "O Mirassol chegou onde chegou por isso. E pra isso acontecer, é importante que o chefe, o Juninho, pense dessa maneira. Quando você está no Paulistão, em um clube do interior, tem que gerir mais derrotas do que vitórias. E teve ano em que, nos 4 primeiros jogos, eu tinha feito um ponto. Qualquer outro clube teria me mandado embora. Mas o Juninho é uma referência nessa continuidade”.

Juninho costuma contratar técnicos que tentem propôr o jogo. Camilo conta que isso é uma característica que vem da diretoria e anima os jogadores: “É uma filosofia do clube. Isso já vem de longo prazo. Já era implantado em 2013 e eu ficava impressionado. Em 2020 ficou mais nítido, com o técnico Ricardo Catalá. E vai até hoje, com o Guanaes. São treinadores com coragem. E isso te dá ânimo, como jogador”.


Juninho, Paulinho e demais funcionários

A atuação de Juninho não se limita a jogadores e treinadores. Ele mantém boa relação com todas áreas do clube.


“Posso te dizer que todos o respeitam demais. Desde os jogadores até os funcionários, todos têm nele uma figura forte. Tive muitos chefes, mas nunca conheci uma pessoa com mais palavra do que ele. Se ele te prometer algo, pode ficar tranquilo, ele vai cumprir. É assim com a cozinheira, com o roupeiro e com os principais jogadores do time”, conta Felipe Modesto, ex-assessor de imprensa do Mirassol

A dedicação de Juninho foi presenciada por Felipe: “Ele sabe desde o valor do maior salário até o valor que se gasta de parafuso para manutenção do CT. Um cara da posição dele, com uma situação financeira tranquila, não teria motivo para ficar acompanhando detalhe da reforma de estádio até mais de meia-noite. Era só delegar e pronto. Mas ele acompanha e está perto de tudo porque gosta”.


Neste ano, a gestão de futebol ganhou mais um apoio: o ex-jogador Paulinho chegou como coordenador técnico e depois foi promovido a executivo de futebol. Foi o próprio Juninho que convenceu Paulinho a trabalhar no Mirassol, com conversas que começaram em 2024.


"Eu estava estudando gestão e vim no Mirassol para conhecer o CT e ver como o time trabalha. Entendi por que o Mirassol chegou onde chegou. O Juninho me perguntou o que eu achava que precisaria para se manter na Série A. Eu coloquei algumas coisas e começou uma conversa diária, por curiosidade dos dois lados. Depois do acesso, o Juninho me ligou e começou uma conversa mais séria", contou Paulinho em entrevista à TS Rádio Mirassol.


Juninho e o presidente

Edson Ermenegildo é presidente do Mirassol desde a década de 90, mas sempre exerceu duas funções na vida - fora do clube, já trabalhou como delegado de polícia, vereador e atualmente é prefeito da cidade. Então sempre precisou de um apoio para cuidar da rotina do time. Com o tempo deixou diversas funções com Juninho.


“O Mirassol não é um clube empresa e nem é SAF. Mas se fosse, o Juninho seria como um CEO. Tem toda liberdade para agir. Agora, com a vinda do Paulinho, ele tem uma ajuda. Mas tem toda liberdade e eu acompanho de longe”, explica Edson. 


O presidente destaca que Juninho não depende só do futebol: “Ele é um comerciante bem-sucedido que foi para o futebol, mas não é remunerado. E com o passar dos anos, ele foi evoluindo bastante. Com muitos contatos, adquiriu conhecimento. É uma pessoa de confiança e só tenho a agradecer”.


Em relação ao financiamento do clube, Edson disse que já precisou fazer empréstimos pessoais para ajudar nos pagamentos, mas essa não é a realidade atual. Segundo ele, o clube consegue se sustentar com receitas próprias, como patrocínios, venda dos direitos de transmissão e revelações de jogadores. “Zeramos todas dívidas”, comemora.


Juninho e a estrutura do Mirassol

O CT do Mirassol já é amplamente conhecido e elogiado. Foi levantado quando o time ainda estava sem divisão nacional. E a ideia partiu do Juninho, segundo Moisés Egert.


“O Juninho é um visionário. Ele é o idealizador de tudo que o Mirassol é hoje. Ele foi muito assertivo ao investir em estrutura. O Mirassol sempre foi um clube sério e organizado, mas tinha dificuldade de estrutura. Nós tínhamos o campo para treinar e jogar. Tinha uns campos pela cidade. E tinha uma academia simples, mas funcional. E eu vi esse planejamento sair da cabeça do Juninho para o papel e depois para a prática”.


Camilo confirma como essa estrutura do Mirassol ajuda os jogadores: “Em cerca de 150 metros você consegue fazer todas coisas: alimentação, dormitório, academia, fisioterapia, vestiário e campo. É tudo muito próximo. E tem todo investimento que o clube faz em equipamentos para melhorar a recuperação. Isso atrai jogadores. Como em qualquer outro trabalho, você pega informações quando vai ter alguma transferência. E aí o atleta sabe que tem as melhores condições para desempenhar e estar feliz”.

Juninho e a família

Os parentes de Juninho não possuem uma ligação direta com o Mirassol, ou seja, ninguém tem cargo no clube. Mas eles acompanham tudo de perto, principalmente irmãos e filhos.


Dentro da família, Juninho é visto como uma pessoa "honesta e correta", que tenta conciliar o trabalho com os encontros de parentes.


“Mas ele é muito profissional. Se está com a gente, mas o time precisa de um técnico, ou de alguma ajuda, ele vai trabalhar”, diz um familiar.


Juninho também faz esforços para acompanhar o crescimento dos sobrinhos, como levá-los para passear, pois gosta de crianças. Vai virar avô neste ano.


Juninho e o mistério das entrevistas

A personalidade discreta já foi vista em muitos momentos. Em 2018, na inauguração do Viaduto Alcebíades Antunes, Juninho foi convidado para falar sobre o pai. Mas avisou que não ia abrir a boca. Então outros parentes tiveram que falar.


Juninho é discreto até para ajudar: quando faz isso, exige que não seja divulgado.

Felipe, que era assessor de imprensa, recusou muitos pedidos de entrevista e tenta explicar essa característica de Juninho: “Ele não é tímido nas relações pessoais, mas não gosta de aparecer na mídia. Nunca sonegou informações, mas não gosta de gravar. Acho que é por ser mais apaixonado do que vaidoso. Ele se envaidece quando o CT aparece, quando o clube tem sucesso, mas prefere não capitalizar esse sucesso para a imagem dele”.


Moisés Egert também foi perguntado se Juninho é tímido, mas respondeu de forma enfática: “Não, não, pelo contrário. Conosco ele é muito presente. Ele é um chefe ativo, né? Ele dá bronca quando tem que dar. Mas sempre foi um cara que se preservou muito. Até vejo ele mais presente agora. Antes ele queria um anonimato. Mas agora já estive em reuniões do arbitral que ele se fez presente. E acredito que seja melhor assim, com a presença dele mais ativa”.


O mistério do Mirassol está perto do fim. Juninho tem ganhado cada vez mais holofotes. As pessoas próximas a ele concordam que é um reconhecimento merecido.