Com o número de casos de covid-19 saindo de controle nos EUA, o presidente Donald Trump insiste em negar a crise sanitária e tenta se descolar do problema. Nas últimas duas semanas, as infecções cresceram 78% em meio à reabertura do país e à circulação de americanos durante as férias de verão. Nos seis primeiros dias deste mês, o país acumulou 300 mil novas notificações da doença.
Trump, porém, prefere afirmar que o vírus é inofensivo e formalizou ontem a saída do país da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Depois de atingir o que parecia o pior momento, em abril, com cerca de 35 mil novos contaminados por dia, os EUA conseguiram desacelerar as infecções para a casa de 20 mil diagnósticos de covid-19 a cada 24 horas em maio. Nas últimas três semanas, no entanto, o país assiste a curva de infecções acelerar novamente batendo o recorde diário de 57 mil casos de coronavírus nos primeiros dias de julho. Nesta terça-feira, Trump disse que os EUA "nunca irão fechar", pressionando pela continuidade da retomada econômica a despeito da situação de saúde.
O problema migrou da região de Nova York para estados do sul e sudoeste do país, com surtos na Flórida, Texas, Arizona e Califórnia. Ao menos 40 dos 50 Estados americanos viram o número de casos per capita aumentar nos últimos 14 dias.
Trump tem argumentado que a mortalidade causada pelo vírus é baixa nos EUA, usando dados falsos. O presidente chegou a dizer que 99% dos casos eram "totalmente inofensivos", contrariando a equipe médica do governo. A taxa estimada de mortalidade da covid-19 nos EUA é de 4,5%, e não 1%, como o presidente sugere. "É uma falsa narrativa ver conforto em uma taxa de mortalidade baixa", disse o epidemiologista Anthony Fauci.
Integrante da força-tarefa do governo Trump contra o coronavírus, Fauci é considerado o maior especialista no tema. Os EUA "ainda estão até os joelhos na primeira onda" da pandemia, disse Fauci. Os EUA têm quase 3 milhões de casos confirmados de coronavírus e mais de 130 mil mortes. Para o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, Francis Collins, os EUA "nunca chegaram a conter a curva, e agora os casos estão voltando à tona", disse.
Recuo
Com o aumento dos casos, alguns Estados impuseram novas restrições na segunda-feira. Em Miami-Dade, o condado mais populoso do Estado americano da Flórida, as autoridades reverteram o plano de reabertura, com uma ordem de emergência que valerá a partir de hoje que fecha academias, bares e restaurantes - esses últimos só poderão servir pessoas do lado de fora. As praias ficaram fechadas no feriado do Dia da Independência, em 4 de julho.
O prefeito de Miami, Carlos Gimenez, principal autoridade do condado que inclui a cidade de Miami e áreas próximas, e que tem cerca de 48 mil casos de covid-19 entre seus 2,8 milhões de moradores, afirmou que o aumento foi causado por infecções entre jovens de 18 a 34 anos que se reúnem em locais lotados - dentro e fora de casa - sem usar máscaras e sem manter o distanciamento adequado. "Os médicos dizem que esse aumento nesta faixa etária era provocado por formaturas, reuniões em restaurantes que se transformavam em festas."
Os novos casos de coronavírus também dispararam na Califórnia no fim de semana do feriado da Independência, sobrecarregando hospitais. O número de pessoas internadas com covid-19 aumentou 50% nas últimas duas semanas, para cerca de 5,8 mil, anunciou o governador Gavin Newson. Cerca de um terço dos hospitalizados estavam em Los Angeles. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.