O governo da Bolívia disse ontem ter "absoluta confiança" nas Forças Armadas, dois dias após um líder opositor convocar os militares a intervir na crise política causada pela questionada reeleição do presidente Evo Morales.
"Confiamos absolutamente nas Forças Armadas. Aquele que bater às portas das Forças Armadas está em busca de sangue", disse o ministro do Interior, Carlos Romero. A declaração coincide com a feita por Evo no fim de semana, quando disse que seus rivais "buscam mortos".
No sábado, o líder do poderoso Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, deu um ultimato a Evo, exigindo sua renúncia até as 19 horas de ontem (20 horas em Brasília) e pedindo aos militares que ficassem "ao lado do povo" nesta crise. As Forças Armadas, que permanecem à margem do conflito político, não emitiram nenhum comunicado.
Durante uma sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos, o chanceler boliviano, Diego Pary, denunciou ontem um golpe de Estado em curso em seu país impulsionado pela oposição, que pediu o levante das Forças Armadas.
O principal rival de Evo, o ex-presidente Carlos Mesa, acusou ontem o presidente de levar a Bolívia a uma situação drástica por não querer renunciar em meio às denúncias de fraude eleitoral. "Evo Morales tem em suas mãos a pacificação do país e a saída democrática para a crise. Ele não tem valor para fazer isso e está provocando o pedido de sua renúncia, levando o país a uma situação limite", advertiu.
A Bolívia entrou ontem na terceira semana consecutiva de protestos após o contestado resultado da eleição presidencial dar uma apertada vitória a Evo no primeiro turno. O dia de ontem foi marcado pelo bloqueio de ruas, estradas e pontes nos arredores de La Paz, enquanto a região de Santa Cruz, a mais rica do país e reduto da oposição, se manteve em greve geral pela renúncia de Evo. As aulas permaneceram suspensas de La Paz, enquanto o centro da cidade teve atividade normalizada. As Forças Armadas usaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para conter focos de distúrbios.
Evo é acusado pela oposição de fraude eleitoral, após ter sido reeleito para um quarto mandato consecutivo no dia 20. A OEA realiza uma auditoria para investigar se houve fraude eleitoral. Mesa, porém, pede a realização de novas eleições, com um novo tribunal eleitoral.
Pouso forçado
Ainda ontem, o helicóptero em que Evo viajava teve de fazer um pouso de emergência, minutos depois de decolar da região de Oruro, onde ele havia se reunido com líderes sindicais e participado da inauguração de uma estrada. A Força Aérea Boliviana disse que houve uma falha mecânica no rotor da cauda e divulgará mais detalhes após uma investigação. Ninguém ficou ferido. (Com agências internacionais)