Após 11 horas de julgamento, o policial militar Bruno Carnelos Zangirolani foi absolvido na noite da última segunda-feira (21). Ele era acusado de matar Gabriel Sartori, na época com 17 anos, em 15 de junho de 2017, em frente a uma escola no Cafezal, zona sul de Londrina. Os jurados acataram a tese de legítima defesa.
O policial morava no local e atirou no chão para espantar os adolescentes. A bala ricocheteou e atingiu Gabriel, que morreu na hora.
“Ele mora numa escola e quando ele está saindo do portão da escola para passear com seu cachorro, esses três rapazes estão tentando pular o muro. Quando ele vai aborda-los, os rapazes enfrentam e vão para cima dele. Ele dá um disparo para o chão, que infelizmente atinge o Gabriel. Mas isso em um quadro de legítima defesa”, explicou o advogado do policial, Eduardo Miléo.
Para a defesa, o que houve foi uma fatalidade. “Ali existiam dois crimes acontecendo, o uso de entorpecentes, que nos autos mostrou quem seria o menor que teria levado, que seria o Gabriel. E nós tínhamos ainda a tentativa de invasão, então ele age para defender a propriedade e da esposa que estava lá”, disse o advogado.
A partir da absolvição, o policial militar, que estava atuando apenas no administrativo, deve voltar ao trabalho de rua. A família já adiantou que pretende recorrer da decisão e pedir a anulação do julgamento. “Não há nenhum motivo para anular o júri. Não tivemos nenhuma situação que possa anular e a decisão do conselho de sentença é soberana”, afirmou o advogado.
A mãe de Gabriel, Cristiane Sartori, não se conforma com a decisão do júri. Para ela, não faz sentido um policial armado contra os adolescentes sem arma e sem representar perigo.
“Eles não estavam fazendo nada, nem palavras agressivas contra o policial porque não houve tempo. Foi comprovado isso na perícia, que não houve tempo nem deles terem reação. A ação do Gabriel correndo, do sangue, da distância, deu para provar isso tudo. E legítima defesa do que? Um policial armado com cachorro de grande porte contra três adolescentes minguados, pequenos. Que defesa é essa?”, questionou Cristiane.
Para Cristiane, a absolvição de Bruno foi como um segundo luto. “Estou me sentindo como tivessem matado o Gabriel de novo. Na minha frente, dessa vez. É como se eu tivesse lutado pela vida do Gabriel e eu vi ele morrendo aos poucos ao final sem poder fazer nada, vendo a justiça daquela maneira absurda em um caso tão claro com testemunha, perícia comprovando. Foi um absurdo para mim, como se tivessem dado outro tiro e não matado o Gabriel, mas a mim”, afirmou.
Familiares e amigos aguardavam o resultado em frente ao Fórum Criminal de Londrina. Segundo relatos, assim que saiu a decisão dos jurados, eles foram intimidados pela Polícia Militar. Imagens mostram a chegada de várias viaturas com as sirenes ligadas e os policiais descendo armados.
“A gente estava pacificamente só querendo justiça e começou a chegar polícia em todos os lados, armados, cercando a avenida. Eu questionei o que eles estavam fazendo lá, que ele já foi absolvido. Aí eles encurralaram os meninos e expulsaram eles de lá. Foi horrível”, afirmou Cristiane.