O clima no governo brasileiro é de otimismo moderado um dia após o diálogo por telefone entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A conversa abriu a possibilidade de reabertura das negociações comerciais sobre a imposição de tarifas, o chamado "tarifaço", sobre produtos brasileiros.
A orientação no governo é ter cautela na busca por um acordo comercial. O vice-presidente Geraldo Alckmin demonstrou essa postura: "Vamos aguardar um pouquinho. O telefonema do presidente Lula com o presidente Trump foi ontem, foi muito bom. Vamos aguardar agora os próximos passos."
O roteiro proposto pela diplomacia brasileira está sendo seguido. O primeiro passo, o contato à distância, ocorreu, e o próximo pode ser um encontro presencial ainda neste mês, durante uma cúpula de chefes de Estado na Malásia.
Próximos passos e encontros bilaterais
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, embarca na próxima semana para os Estados Unidos para participar da reunião de outono do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com o avanço do diálogo entre os presidentes, Haddad acredita que pode ocorrer um encontro com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent.
"Há uma expectativa de algumas conversas bilaterais nesses encontros, com essa aproximação desde o encontro da ONU e agora o telefonema de ontem, pode ser que nós encontremos espaço para uma nova conversa com o Scott Bessent", afirma Haddad.
A conversa entre Lula e Trump incluiu um aceno dos Estados Unidos em relação às tarifas: Donald Trump teria afirmado a Lula que os Estados Unidos sentem falta do café brasileiro. Essa declaração reflete a pressão de exportadores e consumidores norte-americanos, que viram o preço do café subir 20% no último mês, em comparação com setembro de 2024.
Os dois presidentes trocaram telefones, estabelecendo um canal direto de comunicação.
Marco Rubio e pressão interna
A negociação para o telefonema foi conduzida diretamente pela diplomacia brasileira com a Casa Branca, sem envolver o Departamento de Estado, comandado por Marco Rubio. O secretário de Estado já havia feito críticas públicas ao governo brasileiro e ao ministro Alexandre de Moraes.
Apesar de ter sido o interlocutor escolhido por Trump para comandar as negociações do lado dos Estados Unidos — tendo o vice-presidente Geraldo Alckmin como seu par no Brasil —, a avaliação no governo brasileiro é que Rubio está sob pressão do presidente Trump e do empresariado norte-americano para buscar um acordo econômico com o Brasil.