Kirill Serebrennikov é um dos mais talentosos autores russos da nova geração, mas trombou com o poderoso Vladimir Putin e sua vida tem sido um inferno. Está preso na Rússia, sob uma vaga acusação de corrupção - teria desviado recursos de um teatro público - que nunca foi provada. Havia a expectativa de que ele conseguisse uma autorização especial para ir a Cannes, em maio, quando seu longa Verão foi selecionado para a competição.
Serebrennikov permanece preso, foi representado no tapete vermelho por seus atores. Houve outro caso similar em Cannes, este ano - o iraniano Jafar Panahi não pôde viajar para acompanhar a projeção de Três Faces. Permanece confinado em seu país. Tal é o estado do mundo.
Verão é deslumbrante, e se baseia numa história real. Reconstitui os anos do rock, durante a perestroika, quando Mikhail Gorbachev começou a abrir a (antiga) URSS, e o regime comunista entrou em colapso.
Sexo, drogas e rock'n'roll. Viktor Tsoi torna-se o primeiro grande astro internacional do rock russo. Antes dele houve Mike, que virou seu mentor. Era casado com Natasha. Forma-se um triângulo amoroso, a questão é se vai se concretizar. Mike chega a facilitar a vida dos possíveis amantes, armando para que fiquem sozinhos. O que acontece... Olha o spoiler. É melhor ver, e ouvir, Verão.
Serebrennikov fez tudo, menos uma biografia tradicional. Utiliza recursos gráficos - desenhos sobre as imagens filmadas, animações. Tudo isso confere grande liberdade narrativa ao longa, mas o mais belo nesse verão que parece não acabar, mas na verdade foi breve, é o triângulo. A beleza e luminosidade da atriz que faz Natasha. A crispação, a tensão estampada na cara de Viktor. E a tranquilidade forçada de Mike, o mentor. Irina Starshenbaum, Teo Yoo, Roman Bilyk. Verão, no seu intenso agora, não seria tão bom sem eles.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.