Francisco Cuoco, ícone da teledramaturgia brasileira, morreu aos 91 anos, nesta quinta-feira (19). Ator vivia rotina marcada por limitações físicas e cuidados constantes. Artista deixa três filhos, Tatiana, Rodrigo, Diogo e netos.
Conforme apurado pelo jornal Folha de S. Paulo e G1, o ator esteve internado no Albert Einstein, em São Paulo, e sofria complicações de saúde devido à idade. A causa de sua morte não foi informada, mas ele tratava um ferimento que infeccionou.
Cuoco ficou conhecido pelos galãs e protagonistas de novelas como “Pecado Capital”, “O Astro”, “Selva de Pedro” e “O Sétimo Sentido”, entre dezenas de outros, e na última década fazia mais participações especiais.
Francisco Cuoco enfrentava dificuldades de locomoção
Com cerca de 130 quilos, Cuoco passava a maior parte do tempo em repouso e precisava de cuidadores para tarefas básicas, como o banho. As informações são da Folha de S.Paulo, que entrevistou o artista.
Segundo relatos da irmã Gracia Cuoco, de 86 anos, Francisco já não conseguia ficar de pé sozinho. Ele apresentava inchaço nas pernas, pés roxos e fazia uso de uma sonda nasal. Além disso, lidava com infecção nos rins e episódios de ansiedade, que o faziam recorrer à comida em momentos de frustração.
"Tenho alguns problemas de saúde, de locomoção. Mas... É suportável", declarou o ator em maio deste ano.
A piora em seu quadro de saúde se intensificou no último ano. Em julho de 2024, Cuoco ainda conseguiu receber a equipe da TV Globo em casa para gravar um depoimento ao programa Tributo, que homenageia grandes nomes da emissora. Na ocasião, seu estado de saúde era menos delicado, e o rosto do ator ainda remetia ao galã que marcou gerações na televisão brasileira.
Rotina simples
Cuoco viveu os últimos dias com uma rotina simples. Ia com frequência ao hospital, sempre acompanhado por enfermeiros, e passava parte dos dias assistindo à televisão. "Assisto ao jornal, a alguma reportagem mais interessante. Mas perdi o interesse em novelas. Vejo filmes. Mas não sempre, porque eles são muito longos", disse.
A memória já não guardava todas as histórias, mas ele ainda falou com carinho dos tempos em que conciliava a vida de ator iniciante com a de feirante, no bairro do Brás, em São Paulo. À noite, estudava na Escola de Arte Dramática, muito antes de a instituição se tornar parte da Universidade de São Paulo (USP).
"Eu era especial. Tenho fotografia da época e vejo que era um 'galãzura' mesmo", brincou.
Apesar das limitações, o ator garantiu que estava em paz com sua trajetória. "Sei que não foi à toa. [O sucesso] foi baseado em empenho, em entrega, em busca de igualdade. Passaram-se anos e experiências foram acumuladas. Foi bom. Agora quero tocar o barco. O próximo resultado está à frente."
Relembre a carreira de Francisco Cuoco
Cuoco estreou profissionalmente no teatro em 1958, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto (1923-2011). Fazia, na peça "A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Éfeso", com direção de Alberto D'Aversa, um gladiador que já entrava morto em cena. Não tinha falas.
No ano seguinte, acompanhou Montenegro e Britto na formação do Teatro dos Sete, companhia que contava ainda com o diretor Gianni Ratto (1916-2005) e o ator Ítalo Rossi (1931-2011), entre outros profissionais.
Paralelamente ao trabalho nos palcos, começou a fazer teleteatro na TV Tupi e, em 1964, estrelou sua primeira novela, "Marcados Pelo Amor", de Walther Negrão e Roberto Freire, na TV Record. Foi um papel importante para que fosse reconhecido como um dos galãs mais populares da televisão brasileira.
Nesta época, entre 1960 e 1964, Cuoco foi casado com a atriz Carminha Brandão, doze anos mais velha que ele. Em 1966, se casou com Gina Rodrigues, mãe de seus filhos, em uma união que terminou amigavelmente em 1984. De 2014 a 2017 se relacionou com a estilista Thaís Almeida, 53 anos mais nova.
Em 1966, Cuoco protagonizou a novela "Redenção". Dois anos depois, fez pela primeira vez par romântico com a atriz Regina Duarte em "Legião dos Esquecidos", na TV Excelsior. Os dois reapareceram como casal em outros títulos, entre elas, "Selva de Pedra" (1972).
Outros personagens carismáticos de Cuoco incluem Carlão, taxista de "Pecado Capital" (1975), e o charlatão Herculano Quintanilha, em "O Astro" (1977), de Janete Clair. Marco da teledramaturgia, o enredo de "O Astro" ganhou nova versão em 2011, com Cuoco assumindo papel secundário na trama.
Em "O Outro" (1987), de Aguinaldo Silva, o ator interpretava dois papéis: o empresário Paulo Della Santa e seu sósia, Denizard de Mattos. Por conta do trabalho na TV, nos anos 1990, Cuoco passou longo período longe dos palcos, mas reaproximou-se das artes cênicas em 2004 e fez diversos trabalhos depois disso.
No cinema, Cuoco fez "Traição" (1998),"Gêmeas" (1999), "Um Anjo Trapalhão" (2000) e "Cafundó" (2005), “Didi - O Caçador de Tesouros Guardião” (2006) e “Real Beleza” (2015). Em sua trajetória, também arriscou-se como cantor, gravando o disco romântico "Solead" (1975). Gravou ainda o CD "Paz Interior", com 16 orações católicas.