Uma denúncia grave envolvendo produtores rurais do Oeste do Paraná tem mobilizado autoridades, gerado revolta e acendido um alerta em toda a cadeia agrícola da região. Agricultores de Campo Bonito, Ibema e Guaraniaçu acusam uma cerealista de não pagar por sacas de grãos já entregues, causando um prejuízo estimado em mais de R$ 40 milhões.
O agricultor Adair Alves, visivelmente emocionado, desabafou: "É de chorar, na verdade, porque nós trabalhamos dias e dias para entregar todo o nosso produto que tínhamos depositado aqui. Nós tínhamos contas para pagar, e o nosso produto vai pra onde?"
Outro produtor, Acenio Aramis, também se disse arrasado: "A única coisa que eu tinha era isso. Estou acabado com a situação."
Os produtores foram pegos de surpresa ao encontrarem a cerealista fechada, sem qualquer pagamento pelos grãos repassados. Muitos deles mantinham relação comercial com a empresa há décadas, passando de geração em geração.
A empresa, identificada como Freut, atuava há anos em Campo Bonito e havia conquistado a confiança dos agricultores com contratos e relações duradouras. No entanto, cerca de 200 produtores foram surpreendidos pelo fechamento repentino da empresa, e agora cobram na Justiça o pagamento pelos grãos comercializados.
O sentimento é de indignação. Agricultores de todos os portes enfrentam dificuldades para cumprir com prestações de imóveis, dívidas bancárias e despesas médicas, pois contavam com o dinheiro da safra para manter a estabilidade financeira.
A crise atinge também o comércio local. Um empresário do setor de combustíveis, por exemplo, recebeu cheques da empresa que foram posteriormente cancelados, colocando seu negócio em risco.
Até o momento, já foram registrados 46 boletins de ocorrência contra os responsáveis pela cerealista, que são investigados pela Polícia Civil pelo crime de estelionato. A empresa Freut ainda não se manifestou oficialmente sobre as acusações.
Muitos produtores estão sem qualquer renda, já que entregaram toda a safra para a empresa. Alguns receberam cheques que foram cancelados, agravando a situação financeira.
A crise não afeta apenas os produtores, mas impacta diretamente a economia dos municípios da região. Autoridades locais, como o vice-prefeito de Ibema, Altevir Lorencatto, o vice-prefeito de Guaraniaçu, Carlos Roberto Ferreira, e o presidente da Câmara de Vereadores de Campo Bonito, Luís Carlos de Borba, participaram de uma manifestação e pediram o apoio do Judiciário para resolver o impasse.
Em nota, a Copacol, que recentemente adquiriu o imóvel onde funcionava a cerealista, informou que a compra se limitou à estrutura física e aos equipamentos operacionais no endereço da PR-474, em Campo Bonito, e que não possui qualquer vínculo com as operações comerciais anteriores realizadas pela empresa investigada.
A Polícia Civil investiga o caso como estelionato. A delegada Raiza Bedim confirmou a instauração de um inquérito para apurar a autoria e responsabilizar criminalmente os envolvidos. Ela orientou que as vítimas que ainda não registraram boletim de ocorrência devem fazê-lo, seja online ou na delegacia da Polícia Civil de Guaraniaçu.
Em nota a cerealista se manifestou:
A Cerealista Fruett Ltda., por meio de sua assessoria jurídica, vem a público prestar esclarecimentos diante dos recentes acontecimentos que têm repercutido na imprensa e nas redes sociais, em respeito aos seus parceiros, fornecedores, colaboradores e à sociedade.
A empresa, atuante há 30 anos, reconhece e lamenta profundamente as dificuldades enfrentadas por diversos agricultores e prestadores de serviço que, em virtude da instabilidade financeira vivida pela Fruett, ainda aguardam o adimplemento de seus créditos. Trata-se de uma situação complexa, que decorre de uma série de fatores conjunturais do mercado, incluindo oscilações no setor agrícola, retração de crédito, altas taxas de financiamento, concentração atípica de pedidos de fixação por parte dos agricultores, pressionando o fluxo de caixa da empresa e inadimplemento em cadeia por parte de terceiros.
Cumpre informar que, ao longo do último ano, a saúde do sócio proprietário da empresa foi gravemente comprometida, exigindo atenção médica constante e impactando, de forma significativa, em razão do seu afastamento, a condução das atividades empresariais e a tomada de decisões estratégicas. Esse fator, de natureza pessoal e humana, somou-se às dificuldades operacionais já enfrentadas, agravando ainda mais o cenário de crise.
Ainda assim, a Fruett não se eximiu de suas responsabilidades. Ao contrário, tem adotado medidas concretas e transparentes para garantir a maior reparação possível aos seus credores, como a alienação de bens próprios — incluindo sua sede operacional — para quitar débitos, diversos já adimplidos, e minimizar os impactos da crise.
A empresa reafirma seu compromisso com a boa-fé, a legalidade e a busca incessante por soluções viáveis, dentro e fora do Poder Judiciário. Até o momento, mais de 40 boletins de ocorrência foram registrados por episódios de hostilidade, ameaças e tentativas de ocupações irregulares em suas antigas instalações, o que tem gerado preocupações legítimas quanto à segurança do proprietário da empresa, sua família, funcionários e ex-funcionários.
A Fruett compreende a angústia daqueles que esperam uma solução imediata, mas reforça que o caminho da violência, da coação e do linchamento moral não contribui para a construção de soluções efetivas — apenas aprofunda os danos e dificulta a recuperação do setor produtivo como um todo.
Por fim, a Fruett reafirma que permanece à disposição de seus credores e autoridades competentes, agindo com total transparência e buscando medidas que assegurem, na medida do possível, a continuidade dos pagamentos e a preservação das relações comerciais historicamente construídas com base na confiança e no respeito mútuo.
Enquanto isso, autoridades da região acompanham o caso e prestam apoio jurídico às vítimas. A luta agora é por justiça e pelo ressarcimento de um prejuízo que não é só financeiro, é também emocional e estrutural para o setor agrícola da região.