Esportes

As lendas da camisa 12 da Seleção Brasileira

10 jun 2018 às 10:57

O técnico Zagallo justificou, em certa ocasião, a sua preferência pelo número 13. Para o tetracampeão com a Seleção Brasileira, a numeração de 1 a 11 representa os onze atletas em campo. O 12 é da torcida, uma alusão ao 12º jogador que auxilia os atletas. E o 13 se tornou o número da sorte do ‘Velho Lobo’. E ele estava certo ao afirmar que o 12 é da torcida. É comum no Brasil torcidas organizadas adotarem a denominação ‘Camisa 12’.

Mas é fato também que a camisa 12, tradicionalmente, é destinada aos goleiros. Detalhe: goleiros reservas. Isso porque a número 1 é do goleiro titular. E o 12, em tese, é do primeiro jogador que ocupa o banco de reservas. Hoje, com a numeração fixa no futebol, isso nem é levado mais em conta. Mas o 12 não nos trouxe sorte na última Copa do Mundo. Ele foi usado por Júlio César, goleiro titular no torneio. E o camisa 12 sofreu 14 gols em sete jogos, dez deles só nas duas últimas partidas. Na semifinal, o Brasil sofreu a pior goleada da história das Copas: a inesquecível derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais do Mundial de 2014, no Mineirão, que adiou de maneira vexatória o sonho do hexa.

Júlio César, o último goleiro do Brasil a usar a 12 em Copas

Será que foi por isso que o 12 não será usado por um goleiro na Copa do Mundo da Rússia? Na verdade não. O 12 será do lateral-esquerdo Marcelo, titular absoluto do time de Tite e titular incontestável no Real Madrid. E no time espanhol, ele vem fazendo história com o número 12 nas costas. Acabou de conquistar o terceiro título seguido da Liga dos Campeões da Europa. Ou seja, Marcelo tem moral para exigir o número que gostaria de usar no Mundial. Mais moral, inclusive, que Roberto Carlos. Na campanha do penta, em 2002, o lateral-esquerdo queria usar a número 3, mesmo número que usava no Real Madrid na época. Mas Roberto Carlos teve que manter o número 6.

O fato é que o 12 da Seleção Brasileira não vai ser usado por um goleiro em Copas do Mundo depois de 52 anos.

O 12 foi adotado para o defensor da meta pela primeira vez no Mundial da Inglaterra, em 1966. O primeiro goleiro a usar o número 12 foi Manga, reserva de Gilmar naquele mundial. E como ocorreu há quatro anos, aqui no Brasil, o 12 não trouxe sorte. Gilmar atuou nos dois primeiros jogos da Copa da Inglaterra: vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária e derrota por 3 a 1 para a Hungria. No terceiro jogo contra Portugal, Manga, com a 12, foi o titular. A derrota por 3 a 1 para os lusos, que contavam com Eusébio, decretou a eliminação do Brasil na primeira fase do Mundial.

Numeração

A numeração nas costas dos jogadores foi adotada pela primeira vez nas Copas do Mundo na edição de 1950, no Brasil. Foi uma maneira que a Fifa adotou para melhorar a identificação dos atletas. Só que naquele mundial, as seleções não usavam a numeração fixa. Os jogadores que começavam as partidas usavam uma numeração de 1 a 11. Se um time tivesse uma escalação diferente no jogo seguinte em relação ao anterior, a relação dos onze iniciantes tinha os mesmos números.

A numeração fixa em Copas surgiu pela primeira vez na edição de 1954, na Suíça. As seleções passaram a inscrever os atletas convocados para o Mundial com a numeração de 1 a 22. A partir do mundial de 2002, no Japão e na Coreia do Sul, a Fifa ampliou a lista de inscritos para a Copa para 23 atletas. O primeiro jogador da Seleção Brasileira a usar o número 12 em uma Copa do Mundo não foi um goleiro. Em 54, a camisa 12 foi para o lateral Paulinho de Almeida. Naquele torneio, os goleiros do Brasil usaram os números 1 (Castilho), 21 (Veludo) e Cabeção (22). 

Esse fato prova que Marcelo não será o primeiro jogador de linha a usar a camisa 12 da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Mas existe uma feliz coincidência para a torcida canarinho.

Nilton Santos, lateral-esquerdo que jogou com a 12 e foi campeão em 58

Em 1958, o número 12 foi usado pelo saudoso Nilton Santos. Assim como Marcelo, ele atuou como lateral-esquerdo e foi eleito pela Fifa como o melhor atleta da posição de todos os tempos, em 2000. Na Copa da Suécia, em 58, Nilton Santos foi titularíssimo do time do técnico Vicente Feola. Nilton Santos atuou nos seis jogos do Brasil, e mesmo sendo lateral, tinha uma virtude ofensiva. No jogo de estreia contra a Áustria, ele apoiou o talentoso ataque brasileiro e marcou o segundo gol da vitória por 3 a 0. Na final contra a Suécia, Nilton Santos começou a jogada de um dos gols mais belos da Seleção Brasileira na história das Copas. É claro que a atuação do lateral-esquerdo ficou ofuscada pelo brilho do jovem Pelé. Nilton Santos, com a 12, lançou para Pelé, que consagrou a camisa 10. Pelé deu um chapéu em Gustavsson e chutou no canto do goleiro Svensson sem deixar a bola cair. Foi o terceiro do Brasil na vitória por 5 a 2. E em 1958,  a Seleção Brasileira comemorou o primeiro título mundial.

Agora, Marcelo, o novo camisa 12, tem a chance de repetir o feito de Nilton Santos. A 12 não trouxe boa sorte para o Brasil há quatro anos. E a camisa 6, usada pelo lateral-esquerdo no Mundial de 2014, não trouxe boa sorte para Marcelo. O primeiro gol da Copa passada foi do jogador do Real Madrid, mas contra. Marcelo colocou a bola dentro da própria meta no jogo de abertura contra a Croácia. Por sorte, o Brasil virou o jogo e venceu por 3 a 1. Mas o pior na Copa de 2014 ainda estava por vir, como lembramos bem, mas preferimos esquecer.

Na Copa da Rússia em 2018, a camisa 12 não será de um goleiro. O titular Alisson vai jogar com a 1. E os reservas Cássio e Ederson usarão o 16 e o 23, respectivamente.

Com a 12 da Seleção Brasileira, a esperança é que Marcelo possa repetir o sucesso que tem com a camisa 12 do Real Madrid. Ele vai poder fazer uma conta bem simples: pegar o 12 do sucesso e subtrair o 6 do fracasso em 2014. O resultado é seis. Seis do sexto título do Brasil. Seis do hexa!

Todos os camisas 12 do Brasil na história dos mundiais

12 – Paulinho de Almeida - lateral (Suíça, em 1954)

12 – Nilton Santos – lateral (Suécia, em 1958)

12 – Jair Marinho – lateral (Chile, em 1962)

12 – Manga – goleiro (Inglaterra, em 1966)

12 – Aldo – goleiro (México, em 1970)

12 – Renato – goleiro (Alemanha, em 1974)

12 – Carlos – goleiro (Argentina, em 1978)

12 – Paulo Sérgio – goleiro (Espanha, em 1982)

12 – Paulo Victor – goleiro (México, em 1986)

12 – Acácio – goleiro (Itália, em 1990)

12 – Zetti – goleiro (EUA, em 1994)

12 – Carlos Germano – goleiro (França, em 1998)

12 – Dida – goleiro (Japão e Coreia do Sul, em 2002)

12 – Rogério Ceni – goleiro (Alemanha, em 2006)

12 – Gomes – goleiro (África do Sul, em 2010)

12 – Júlio César – goleiro (Brasil, em 2014)

12 – Marcelo – lateral-esquerdo (Rússia, em 2018)