Filmes como Terra de Ninguém/Badlands, de 1974; Cinzas no Paraíso/Days of Heaven, de 1978; e Além da Linha Vermelha, de 1998, esculpiram o mito de Terrence Malick. Repare nas datas - quatro anos entre o primeiro e o segundo filmes, mais 20 até o terceiro. Ao longo desses 24 anos, Malick tornou-se o grande recluso do cinema norte-americano - o J.D. Salinger do cinema. Como o escritor, que se recusava a aparecer ou dar entrevistas, o cineasta se recusa a fazer o jogo do cinemão. Ele tem uma cara, que você encontra na internet. Mas não vai às próprias estreias, não concede entrevistas. Não pisou no tapete vermelho nem para receber a Palma de Ouro, que ganhou por Árvore da Vida, em 2011.
Algo se passou depois disso. Em apenas cinco anos, Malick tornou-se prolífico, Fez três longas - Amor Pleno, Cavaleiro de Copas e De Canção em Canção, que estreia nesta quinta, 20. Mais dois documentários - um longo, Voyage of Time - A Lifes Journey, e outro curto, Voyage in Time - The Imax Experience. O jornal inglês The Guardian foi direto ao ponto. Malick está precisando de uma parada. "Should have a break", como escreveu a publicação, em sua versão online. Malick deveria parar de produzir loucamente, e se reinventar. Pois esses três longas ficcionais, ao contrário das viagens dos anteriores, parecem todos variações do mesmo filme.
Belos, famosos, ricos. O típico personagem de Malick é angustiado. Homens e mulheres em busca do sentido da vida - no sexo. Talvez se pudesse até fazer um paralelo entre a busca de Malick e a do autor brasileiro Walter Hugo Khouri, que morreu em 2003.
Khouri, a partir de determinado momento, filmava sempre o mesmo personagem, chamado Marcelo. Um priápico, que buscava, mais que a redenção, uma ascese (no sentido cristão) por meio da degradação do sexo. Ben Affleck, Olga Kurylenko, Javier Bardem em Amor Pleno. Christian Bale, Natalie Portman, Cate Blanchett em Cavaleiro de Copas. Ryan Gosling, Michael Fassbender, Rooney Mara, Natalie Portman (Cate Blanchett) em De Canção em Canção.
Depois dos bastidores de Hollywood, no longa anterior, a cena musical de Austin, no Texas. Fassbender transforma Gosling em superstar, mas ambos brigam por créditos (e direitos) envolvendo canções. Num determinado momento, dividem a mesma mulher. Rooney Mara vai dos braços de um aos de outro. De canção em canção. De beijo em beijo, mas, em vez de plenitude, o sentimento de vazio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.