Agro

Assistência técnica e sucessão familiar fortalecem a cafeicultura

18 mai 2023 às 10:57

Cafeicultores paranaenses estão impulsionando a produção com boas práticas, assistência técnica e cooperação. Com ações inovadoras, eles buscam melhorar a renda familiar e, ao mesmo tempo, preservar o café como uma tradição importante da história da agricultura do Estado.


O Norte Pioneiro concentra a maior parte da cafeicultura e, ainda que o volume no Estado não seja expressivo comparado a outras grandes culturas, a qualidade da produção faz a diferença, com diversos cafés especiais premiados em concursos.


A fórmula para esse bom desempenho inclui mecanização, diversificação e sucessão familiar. O café do Norte Pioneiro também já tem selo de Indicação Geográfica concedido concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e iniciativas importantes como o grupo Mulheres do Café.


Nesse cenário, o “saber fazer” dos extensionistas rurais do Estado tem sido fundamental para promover transformações na vida das famílias no campo. Eles conhecem as propriedades, o modo de vida e a realidade local. Ajudam na organização dos pequenos produtores e levam também modernização às lavouras – um empenho diário que visa elevar a renda e a qualidade de vida desses agricultores.


As políticas públicas do Estado também têm papel importante no suporte à agricultura familiar, dando acesso a recursos, estrutura ou outros benefícios que fazem prosperar a produção.


O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, acompanhado de uma equipe do Sistema Estadual de Agricultura (Seagri), visitou nesta semana propriedades que servem como referência no Norte Pioneiro. O objetivo do governo estadual é replicar o modelo em outras regiões.


O município de Carlópolis lidera a produção do grão no Paraná e é um exemplo desse cenário. Enquanto o Estado, de modo geral, tem perdido área de café nos últimos anos, a cidade faz o caminho inverso e tem conseguido crescer nessa cultura.


São aproximadamente 5 mil hectares que geraram uma produção de 9,16 mil toneladas e um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 165,2 milhões em 2021, segundo os dados mais recentes do Departamento de Economia Rural (Deral). Cerca de 600 produtores trabalham nessa atividade na cidade.


Durante a visita às propriedades, Ortigara parabenizou os cafeicultores, técnicos e lideranças e listou algumas políticas públicas que podem ajudar na continuaidade desse trabalho.


“Nós reconhecemos o esforço de quem cresceu pela busca de fazer diferente, e esperamos que outras cidades copiem essa capacidade de organização. Esse modelo de união, e com a ideia de ter um café de qualidade, especial, é muito importante”, disse.


“Nosso time está definindo uma estratégia para nos somar a esse esforço, nas políticas de incentivo ao cultivo, à mecanização, ao uso da água, para aumentar a produtividade, baixar custos e riscos”, completou.

DIVERSIFICAÇÃO - O coordenador estadual de Cafeicultura do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná), Otávio da Luz, que trabalha há mais de 30 anos em Carlópolis, acompanhou de perto a história do café. Ele explica que o cuidado com o solo e a diversificação são fatores primordiais para melhorar a produtividade, especialmente com a fruticultura e olericultura. A extensão rural tem papel fundamental no incentivo a essas práticas.


“A diversificação de culturas dá uma estabilidade financeira muito boa para o produtor. A fruticultura e a olericultura agregam bastante valor na propriedade”, diz. De acordo com ele, com planejamento, a área de café na cidade poderia ser ampliada para 10 mil hectares nos próximos anos.


PANORAMA - O café está presente em 187 municípios do Paraná e, segundo o IDR-Paraná, em mais de 50 deles a economia depende da cafeicultura. São aproximadamente 6 mil famílias nessa atividade em todo o Estado e cerca de 80% das propriedades são de agricultura familiar.


No Paraná, embora a produção tenha reduzido 13% de 2020 para 2021, atingindo 51 mil toneladas, o VBP cresceu 41% em termos reais e chegou a R$ 911 milhões, segundo o Deral. Por área, essa cultura rende pelo menos cinco vezes mais do que a soja. No entanto, a área destinada ao plantio dessa cultura tem reduzido ao longo dos últimos anos.


O Estado já foi um grande produtor de café. Chegou a ter 1,8 milhão de hectares nos anos 1960, até que adversidades climáticas severas, como a geada negra de 1975, fizeram a produção despencar. Naquele ano, o Paraná tinha 942 mil hectares plantados. No ano passado, aproximadamente 30 mil hectares foram destinados à cultura.


SUCESSÃO FAMILIAR - Para entender o que levou Carlópolis ao título de principal produtor de café do Paraná, é preciso conhecer também a história das famílias, que têm conseguido manter o interesse das novas gerações pela cultura.


A propriedade da família do Sítio São Manoel, com 21 mil pés de café, já está na quarta geração de produtores. Se, antigamente, o trabalho seguia um sistema de cultivo mais difícil e penoso, hoje é um exemplo do que vem dando certo na cidade: diversificação e sucessão familiar.


“A sucessão é automática desde que a propriedade dê dinheiro suficiente para ter uma vida boa na família. Se não tiver recursos, o jovem vai buscar outras alternativas na cidade”, completa o coordenador estadual de Cafeicultura do IDR-Paraná.


Eduardo da Silva é bisneto de cafeicultores. “É um orgulho muito grande”, diz a avó, Anita. Ele está estudando agronomia e pretende se especializar em café. “A gente espera que o café cresça muito mais”, diz Eduardo.


​​​​Também em Carlópolis, o produtor Emanuel Liuti, de 23 anos, seguiu a mesma vocação do pai e do avô. Em 2006, a família cultivava meio hectare. Hoje, são 16 hectares de café, e também está aumentando a área de fruticultura. “A vantagem é que trabalhando com a fruta você consegue pagar os custos de família, de maquinário, manutenção, da lavoura e ainda um pouco da lavoura do café”, explica.


Liuti conta que a boa condução dos pais na educação dele e dos dois irmãos, dando abertura para que participassem das escolhas na propriedade, fez a diferença para mantê-los no campo. “Desde quando a gente tinha por volta de 15 anos, éramos envolvidos nos trabalhos. Então crescemos com olhar de comunidade, de trabalhar em família. A partir dessa oportunidade, sabendo que seríamos o futuro disso, a gente se sentia bem trabalhando junto”.