O cultivo de trigo no Brasil está ganhando fôlego no Cerrado. O impulso ganha força com o avanço das pesquisas de melhoramento das variedades adaptadas ao bioma, o que também vem alavancando a produtividade. Na região, são registradas médias de 6 toneladas por hectare, muito além das produtividades alcançadas nas lavouras tradicionais, no sul do país.
O pesqusador da Embrapa Trigo, Julio Albrecht, explica que a elevada produtividade é reflexo do melhoramento genético das plantas, originárias de um centro de melhoramento genético e da região sul. “A pesquisa e o desenvolvimento de novas variedades têm o objetivo aprimorar a qualidade e a produtividade desse cereal essencial para a população”, explica.
De acordo com Albrecht, o trigo do Cerrado pode revolucionar o mercado e uma das grandes vantagens é o ciclo de crescimento. "Ele cresce de maio a setembro, o que coincide com o período de seca no Centro-Oeste, demandando muito mais de tecnologia e investimento". O pesquisador também ressaltou a importância da irrigação para o sucesso do cultivo na região, referindo-se ao trigo irrigado como uma promessa para aumentar a área e o volume de produção tanto deste tipo quanto do comum, ou sequeiro.
O processo de melhoramento genético foi fundamental para alcançar tais resultados. "Cruzamos materiais do simples centro Internacional de melhoramento de trigo materiais do sul e a seleção resultou em materiais mais produtivos e precoces", comentou. Albrecht acredita que, em 10 anos, seja possível aumentar a área cultivada com trigo no Cerrado para além de 1 milhão de hectares, o que contribuiria para o Brasil alcançar a autossuficiência. Hoje, o Brasil ainda importa trigo.
Leandro Maldaner, produtor e vice-presidente de uma cooperativa no Distrito Federal, é um exemplo do sucesso alcançado na região. Ele mantém uma indústria que produz farinha de trigo "60 toneladas por dia em sacos de 25 kg e nos pacotes, o que demonstra a escala da produção local.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos em relação à produção de trigo. Segundo dados da Conab, as safras recentes tiveram produção de 8 milhões de toneladas em 2023, mas ainda há uma grande dependência de importações. "No ano passado, foram importadas 5 milhões e 700 mil toneladas", e as previsões para 2024 indicam que as importações podem chegar a quase 7 milhões de toneladas.
Essa dependência de importações enfatiza a importância dos esforços contínuos para aumentar a produção nacional. José Ferreira expressou otimismo sobre o futuro: "Nós acreditamos que, no futuro próximo, ainda talvez nos próximos 10 anos, podemos chegar a 1 milhão de hectares" de trigo cultivado no Cerrado.
Com o crescimento da produção e a continuidade dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o trigo do Cerrado pode não apenas atender à demanda nacional, mas também garantir uma posição de destaque para o Brasil no mercado global de trigo.