O mundo das artes perdeu nesta sexta-feira (23) um de seus maiores expoentes e o meio ambiente um de seus maiores aliados. O fotógrafo e ativista ambiental Sebastião Salgado morreu em Paris, aos 81 anos. A morte foi confirmada pela correspondente da Band na capital francesa, Sonia Blota. A causa ainda não foi informada.
Nascido na pequena Aimorés, em Minas Gerais, em 1944, Salgado se formou em Economia, mas foi com a fotografia que se encontrou como pessoa. A mudança da planilhas para as lentes se deu na década de 1970 e esse casamento o levou a mais de 120 países, retratando, sempre com olhar sensível e aguçado, cenas que expõem tanto a beleza quanto a brutalidade do mundo.
Os projetos de longa duração, sempre com a marca das fotos em preto e branco que o notabilizou, falava de temas como trabalho, migração, conflitos e, claro, o meio ambiente. “Trabalho”, de 1993, é um exemplo. A série, que retratou atividades manuais em setores como agricultura, construção e indústria, trouxe imagens emblemáticas para muitos até hoje: os trabalhadores de Serra Pelada nos anos 80.
No início dos anos 2000, lançou “Êxodos”, que retrata os deslocamentos de populações forçadas pela guerra, pobreza ou desastres ambientais. A obra abrangeu mais de 40 países e se tornou referência na documentação das migrações, com retratos de refugiados e deslocados internos em diversas regiões da África, América Latina, Ásia e Europa.
Já em 2004, Salgado passou a se dedicar ao projeto “Gênesis”, publicado em 2013, no qual registrou regiões ainda preservadas do planeta e comunidades que mantêm modos de vida tradicionais. As imagens, feitas ao longo de oito anos, percorrem áreas como a Antártida, a Amazônia, as savanas africanas e as ilhas do Pacífico, com o objetivo de destacar a riqueza ambiental e cultural do mundo natural.
Ligação com natureza foi além dos registros fotográficos
Ao lado Lélia Wanick, sua companheira de décadas, fundou Instituto Terra, dedicado à recuperação ambiental da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce. A iniciativa reflorestou mais de 700 hectares de terra degradada na antiga fazenda da família Salgado e tornou-se modelo internacional de restauração ecológica.
Pelas redes sociais, o instituto lamentou a morte de seu fundador e afirmou que continuarão “honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar".
“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", diz a nota.