Mais de seis milhões de judeus foram assassinados pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, a maioria em campos de extermínio, em um dos episódios mais brutais da história da humanidade: o Holocausto.
No Brasil, a TV Tarobá conversou com Ercília Fligelman, escritora e nora de um dos últimos sobreviventes do Holocausto que vivem no país. Recentemente, ela lançou um livro que detalha a trajetória de Abram Fligelman, um polonês que sobreviveu a pelo menos quatro campos nazistas de trabalho forçado, após ser salvo por soldados norte-americanos.
Abram tinha apenas 12 anos quando foi separado da família e enviado para os campos de trabalho nazistas. Testemunha da barbárie, ele sobreviveu à fome, ao frio e à solidão, crescendo na escuridão do Holocausto. Aos 95 anos, decidiu, com o apoio da nora, deixar seu relato registrado.
“É a história do meu sogro, sobrevivente do Holocausto, de campo de concentração. E dentro do contexto histórico que pesquisei, eu coloco a história dele. Quando ele foi para o primeiro campo de trabalho, ele tinha 12 anos, estava para fazer 13. Ele cresceu e se tornou adulto durante a guerra”, conta Ercília.
Dentista aposentada, Ercília se dedicou à escrita do livro durante três anos, com pesquisas em museus e instituições da Polônia, Alemanha e Brasil. A obra foi construída com documentos reais, depoimentos e memórias familiares, buscando reconstruir uma história fragmentada pelo tempo.
Na capa do livro, uma imagem histórica considerada icônica: a chegada do navio Mataroa, em 15 de julho de 1945, ao futuro Estado de Israel. A embarcação transportava órfãos sobreviventes do campo de concentração de Buchenwald, entre eles Abram Fligelman.
Segundo Ercília, o silêncio sobre o passado só foi quebrado em 1996, quando Abram deu seu primeiro depoimento público. “Ele nunca falava sobre o que passou. Era um assunto proibido. Os sobreviventes tinham vergonha, sentiam-se culpados por terem sobrevivido”, explica.
Hoje lúcido, Abram ainda revive com dificuldade os acontecimentos da época, e por isso a nora decidiu registrar sua história enquanto ele pode acompanhar o processo.
No livro, um dos episódios relatados é a escassez extrema de comida nos campos. Abram e o irmão, por exemplo, dividiram uma cebola podre durante dois dias para sobreviver.
Após enfrentar os campos de trabalho e a guerra de independência de Israel, Abram chegou ao Brasil em 1955, onde recomeçou a vida, investiu na indústria metalúrgica, constituiu família e hoje se orgulha dos netos e onze bisnetos.
“Ele sempre fala para valorizarmos tudo que temos”, diz Ercília. “Este livro foi bom para ele, para mim também. Me fez reavaliar meus valores e o que realmente importa na vida.”