Educação

UEL investe em energia limpa a partir de hidrogênio e metano da fécula de mandioca

14 nov 2021 às 15:13

O Paraná é o principal produtor brasileiro de fécula de mandioca, com 70% do volume nacional. Derivada da produção de agroindústrias espalhadas principalmente nos polos Noroeste, Oeste e Leste do Estado e utilizada na indústria de tecido, papel, cola e tintas, é o tema do projeto de pesquisa “Produção de biohidrogênio e biometano em sistemas combinados acidogênico-metanogênico a partir da água residuária de fecularia de mandioca”.

O projeto é vinculado ao Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU) e ao diretório de pesquisas do CNPq, na área de “Engenharia Sanitária”, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Segundo a coordenadora do projeto, Deize Dias Lopes, do Departamento de Construção Civil/CTU, o grupo começou a trabalhar especificamente com produção de hidrogênio e metano no final de 2017.

“Os estudos envolvendo hidrogênio ainda são bastante iniciais em todo o mundo, mas o metano produzido por féculas de mandioca já é objeto de estudos e utilizado há algum tempo. Como um carboidrato, com bastante matéria orgânica, produz a água residual que, se bem tratada, pode reduzir o impacto ambiental das indústrias e, ainda, servir de biocombustível”, explicou a professora.

A doutoranda Isabela Bolonhesi, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, na área de Tratamento de Efluentes e Águas Residuais, produz uma tese a respeito da geração de bioenergia através desses efluentes. Ela analisa o processo de decomposição anaeróbia da água residual da fécula de mandioca. “A partir desse processo, dividido em duas fases, é possível extrair o biogás proveniente dessa quebra”, explicou. 

ENERGIA LIMPA E RENOVÁVEL – Um dos principais pontos da pesquisa é a aposta na produção energética limpa e renovável, especialmente em um contexto em que o País passa por uma crise hídrica e necessita de revisão de sua matriz energética, segundo a pesquisadora.

“Em 2020, tivemos no Paraná a geração de 300 mil toneladas de fécula de mandioca. Os efluentes líquidos dessa produção, se transformados em biocombustível, podem gerar até 15 gigawatts/hora ao ano de energia”, afirmou.

A produção de bioenergia através de gás metano no Brasil ainda é bastante tímida. “Temos, em média, uma produção de 0,9% de energia proveniente dessa fonte”, avaliou. “O biocombustível tratado corretamente tem uma redução da sua carga orgânica, o que reduz, também, o impacto ambiental do descarte desse efluente na natureza. Mesmo que o resíduo seja corretamente descartado, isso ocupa espaço em um aterro, então é um reaproveitamento total da produção”.

A pesquisa de Isabela foi realizada em laboratórios multiusuários da UEL.

VIABILIDADE ECONÔMICA – Outro estudo, ligado ao projeto de pesquisa, é a tese de Ivan Taiatele Junior, estudante do mesmo programa de pós-graduação, intitulada “Viabilidade econômica da produção de biogás de efluente de indústrias de fécula de mandioca”. O estudo avalia a viabilidade econômica do reaproveitamento energético desses resíduos para empresas de portes variados.

Nesse sentido, Deize relembra que, para pequenas fecularias que desejam exportar a produção, é possível unir-se para participar da chamada “economia circular” ou “bioeconomia”. O momento, inclusive, é favorável: como a China comprou a produção de fécula de mandioca da Tailândia, o Brasil deverá bater recordes na exportação do produto.

“As grandes fecularias já exportam sua produção, em geral, para a China. Para as menores encontrarem competitividade, uma possibilidade é uma união como cooperativa”, arrematou.